Com apenas 83 mil mortes, Índia levanta suspeitas de subnotificação deliberada

Com mais de 5,1 milhões de casos, população suspeita de maquiagem de dados para acelerar reabertura no país

Com mais de 5,1 milhões de casos e apenas 83 mil mortes confirmadas, a Índia pode estar excluindo óbitos por Covid-19 do sistema de contagem, informou a Associated Press, nesta quinta (17).

O filho de uma das vítimas do vírus, Abhijit Mitra, revela que, antes de morrer, seu pai teve resultado positivo no teste de Covid-19. O nome dele, no entanto, nunca apareceu em nenhuma lista oficial.

Com um volume de óbitos reduzido, o Ministério da Saúde indiano se aproveita dos números para evidenciar um suposto “sucesso” no combate à pandemia.

Índia exclui mortes por Covid-19 do sistema de contagem
Família enterra parente que morreu por Covid-19 na cidade indiana de Ahmedabad, em abril de 2020 (Foto: Flickr/Ninian Reid)

Em consequência, o governo já relaxou as restrições e tenta retomar a economia após bloqueio no início do ano.

Para tentar tornar os índices mais transparentes, o Ministério da Saúde indiano pediu que os estados registrem toda as mortes “provavelmente” ocasionadas pelo vírus. Nem todos cumprem as regras.

À AP, o secretário de saúde do estado de Mahrashtra, Archana Patil, afirmou que não há contagem das “mortes presumíveis”. Em Assam, parte das mortes pelo vírus são registradas como “acidentais”, já que os infectados já possuíam outras doenças. O mesmo é feito em Nova Délhi e Mumbai.

Crematórios lotados

Os crematórios relatam um aumento exorbitante de corpos. Na capital de Uttar Pradesh, Lucknow, são 30 pessoas estão sendo cremadas por dia. Antes da pandemia, a média era de cinco ou seis na cidade, localizada no estado mais populoso da Índia.

O funcionário, Bhupesh Soni, afirmou que está trabalhando mais de 20 horas por dias para incinerar corpos. Em média, uma cremação dura cerca de 45 minutos. “É um fluxo infinito de corpos”, disse.

A notificação de mortalidade já era defasada antes da pandemia na Índia. A estimativa é que cerca de 10 milhões de pessoas morram por ano no país, mas menos de 2,5 milhões são documentadas. Apenas 2 milhões são certificadas por médicos, de acordo com os números locais.

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