Desaceleração econômica na China traria ‘consequências globais’, segundo os EUA

O colapso pode abalar os bancos chineses e impactar o mercado imobiliário do país asiático, preocupações que agitaram os mercados financeiros mundo afora

Devido à magnitude da crise, a situação da Evergrande, gigante chinesa da construção civil, está no radar dos EUA, segundo a secretária do Tesouro norte-americana Janet Yellen. Além de informar que o governo Biden está atento ao caso da incorporadora imobiliária mais endividada do mundo, ela alertou que a luta para pagar bilhões em empréstimos pode impactar severamente na economia global, de acordo com a rede CBS News.

“O mercado imobiliário é um setor importante da economia chinesa. É responsável por cerca de 30% da demanda”, disse Yellen durante participação no programa Face the Nation, que faz parte da grade da emissora norte-americana.

Para ela, uma desaceleração na China traria consequências globais. “A economia da China é grande. Se ela desacelerar mais do que o esperado, certamente teria consequências para muitos países que estão ligados a ela pelo comércio”, disse.

A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, durante conferência de economia (Foto: International Monetary Fund/Flickr)

Evergrande, segunda maior empresa do setor imobiliário da China, tem um endividamento de cerca de 300 bilhões de euros e ameaça dar um calote nos credores. A dívida foi contraída em empréstimos astronômicos retirados ​​para financiar a construção de apartamentos, prédios de escritórios e shopping centers. Imersa em dificuldades financeiras, a incorporadora não consegue pagar o que deve.

O colapso pode abalar os bancos chineses e impactar o mercado imobiliário do país asiático, preocupações que agitaram os mercados financeiros mundo afora.

Economistas avaliam que impedir uma crise de crédito chinesa está ao alcance de Beijing, que, porém, hesita em providenciar um resgate num momento em que tenta forçar outras empresas a reduzirem o endividamento. Enquanto isso, o governo chinês permanece em silêncio sobre a possibilidade de intervenção para reestruturar a pendência da Evergrande.

Yellen foi questionada durante a entrevista se os reguladores chineses têm capacidade para administrar tais riscos. “Eles certamente estão tentando fazer isso e é algo que estamos observando de perto.”

Mansões e obras de arte

As autoridades chinesas orientaram o presidente da Evergrande, Hui Ka Yan, que use parte de sua riqueza pessoal para ajudar a pagar os detentores de títulos. E para honrar a dívida, o fundador da gigante da construção civil está liberando fundos de ativos de luxo, incluindo obras de arte e mansões, revelou a agência Reuters.

Yan, que chegou a ostentar o título de homem mais rico da Ásia em 2017, já teria prometido em outubro uma propriedade em um bairro nobre de Hong Kong com vista para os arranha-céus, digna de cartões postais, ao China Construction Bank. O prédio está avaliado em HK $ 800 milhões (cerca de US$ 103 milhões). Há outros dois imóveis do empresário que devem ter o mesmo fim: um de US$ 800 milhões e outro na casa de um bilhão de dólares.

China Evergrande Group: crise ameaça crescimento econômico da China (Foto: Wikimedia Commons)

Crise energética

Além da Evergrande, também impacta na economia chinesa a crise energética, com o aumento do preço das fontes de energia globais, a escassez de carvão no país e as consequentes interrupções da produção em diversas fabricas. “A restrição de produção e a escassez de energia provavelmente continuarão pesando no crescimento do quarto trimestre”, dizem os economistas do UBS.

Um junção de fatores colocou a China nessa situação. Primeiro, a pressão do governo para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, com vistas à meta de atingir a neutralidade de emissões até 2060. Num país que tem quase 60% da economia dependente do carvão, a solução foi impor racionamento de energia em residências e na indústria.

Paralelamente, as chuvas torrenciais que atingiram o país recentemente causaram inundações na província de Xanxim, de onde sai cerca de 30% de todo o carvão consumido no país. Como resultado, o preço do produto disparou, e o governo se viu forçado a suspender os limites de produção antes existentes por razões ambientais.

Na indústria, as grandes vítimas do racionamento são os setores que demandam mais energia elétrica, como a produção de cimento e as fundições de alumínio e aço, segundo a rede britânica BBC. Num caso extremo, uma fábrica têxtil da província de Jiangsu cortou totalmente a energia num período entre setembro e outubro. Com isso, cerca de 500 trabalhadores tiveram que deixar seus postos e receberam um mês de folga remunerada.

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