Os avanços de Beijing contra Taiwan estão levando o exército da ilha à exaustão, aponta uma reportagem investigativa da Reuters, lançada na última quinta (10).
Sem ataques diretos, Beijing lançou uma forma de guerra de “zona cinzenta” – um tipo irregular de conflito que se aproxima de um guerra real, mas vulnerabiliza o alvo via ondas de ameaças.
Desde setembro, aviões de guerra chineses voam sobre o estreito de Taiwan e insinuam ataques que nunca acontecem. Ao mesmo tempo, exercícios de aterrissagem de anfíbios, patrulhas navais, ataques cibernéticos e confrontos diplomáticos armam a atmosfera do mais alto risco de ataque mútuo em décadas.
A presidente da ilha, Tsai Ing-wen, falou sobre o risco iminente na última terça (8). “A democracia da ilha está sob a pressão implacável de forças autoritárias. Taiwan tem recebido ameaças militares diariamente”, disse, sem entrar em detalhes.
A relação entre Beijing e Taipé se desgastou mais profundamente desde a eleição de Tsai Ing-wen, em 2016. A presidente luta contra o princípio de “uma só China” imposto pelo governo chinês.
Apesar de Taipé ter reforçado o seu exército com ajuda dos EUA – um polêmico aliado em meio à guerra comercial de Beijing e Washington –, as forças chinesas ainda detém maior poder militar.
Domínio ambicioso
Com um exército em desenvolvimento desde a posse de Xi Jinping, em 2012, a China busca se estabelecer o suficiente para conseguir dominar a ilha de 23 milhões de habitantes em um único dia, dizem analistas.
Segundo um almirante militar aposentado de Taiwan, o exército chinês só não “esmagou” Taiwan pois ainda não tem o “poder de fogo” para fazê-lo. Mas é questão de tempo. “O avanço militar a China é muito superior. É apenas uma questão de tempo para eles reunirem forças”.
O recente controle sobre Hong Kong, Tibet e Xinjiang favorecem a narrativa da conquista sobre sobre o território reivindicado. O Escritório de Assuntos de Taiwan da China, porém, afirmou que Beijing está comprometido com a “reunificação pacífica”.
“São boatos cheios de preconceito e mostram uma mentalidade da Guerra Fria. Estamos profundamente insatisfeitos e nos opomos firmemente aos relatórios”, diz a nota lançada à Reuters.
A visão de Xi, no entanto, pode ser diferente. Em discurso no início de 2019, o líder chinês afirmou que Taiwan “deve ser e será” unificada à China. Ele não estabeleceu prazo, nem descartou o uso da força.