O setor mobiliário chinês atravessa um momento delicado, com grandes empresas em inadimplência. Nessa atmosfera de crise, três dos cinco principais emissores já deram calote em seus títulos em dólar. As informações são do portal The Edge Market.
Segundo a China Vanke, a segunda maior incorporadora em vendas, atrás da endividada até o pescoço Evergrande, uma fatia do mercado está conseguindo se reerguer. Porém, negócios menores enfrentam grande dificuldade, já que uma recuperação passa por empréstimos, mas os investidores se mostram céticos.
A desalavancagem imobiliária freou a economia no país asiático. Uma recuperação vigorosa dos gigantes imobiliários exigiria um acesso mais fácil aos mercados de dívida. Beijing até ofereceu algum apoio de crédito, no entanto, confiança não é algo que se recupere de uma hora para outra.
Beijing à noite: setor imobiliário está em crise na China (Foto: pixabay.com)
A mais recente pesquisa do banco central com banqueiros comerciais aponta que a demanda por empréstimos teve enfraquecimento no segundo trimestre. Isso ocorreu porque as famílias chinesas não parecem dispostas a fazer hipotecas enquanto sofrem com as restrições generalizadas do coronavírus impostas pelo governo, particularmente com a política sanitária de Covid Zero.
A gigante Evergrande puxou a fila desse momento de crise, perdendo o pagamento de títulos em dezembro de 2021. O caso mais recente do conturbado mercado imobiliário da China é o da incorporadora Shimao Group, que perdeu o pagamento de juros e principal de um título offshore de 1 bilhão de dólares com vencimento no domingo (3), segundo a agência Reuters.
A empresa vem estendendo suas obrigações de dívida onshore e alienando ativos para levantar fundos, enquanto suas vendas contratadas nos primeiros cinco meses caíram 72% em relação a 2021.
A lista é longa de incorporadoras imobiliárias chinesas em maus bocados. Segundo o jornal The Epoch Times, a Skyfame Realty teve todos os seus títulos suspensos na Bolsa de Valores de Hong Kong na última terça-feira (28) após não honrar um empréstimo garantido. Antes de divulgar o calote, a empresa revelou dias antes que estava sob “pressão de liquidez sem precedentes”.
O Departamento Nacional de Estatísticas da China aponta que o índice nacional de prosperidade habitacional caiu de 101,18 em maio passado para 95,60 em maio de 2022, redução significativa na comparação com os anos anteriores. Paralelamente, as vendas de propriedades, investimentos e novas atividades de construção igualmente tiveram retração significativa nos primeiros cinco meses de 2022.
As vendas de imóveis caíram 31,5% nos primeiros cinco meses em relação ao mesmo período em 2021, enquanto as atividades de investimento e construção nova caíram 4% e 30,6%, respectivamente.
Por que isso importa?
Foi o endividamento da Evergrande que chamou a atenção para a crise imobiliária chinesa, símbolo das dificuldades enfrentadas pela economia local e seu outrora próspero setor. Depois de expandir e tomar empréstimos a uma velocidade vertiginosa, a incorporadora alega que tem lutado para juntar o dinheiro que precisa para honrar dívidas em atraso, empréstimos pendentes e salários atrasados.
A reorganização da incorporadora, que espera-se ser a maior já feita no país asiático, é tida como um momento decisivo na história do mercado de títulos em dólar no continente.
A Evergrande tomou emprestados mais de US$ 20 bilhões em títulos denominados em dólares de seus mais de US$ 300 bilhões em passivos. Mas entregou poucas informações detalhadas enquanto as autoridades chinesas trabalham para limitar o impacto do colapso da empresa.
Hui Ka Yan, fundador e presidente da companhia e que encabeça a lista de bilionários devedores do setor imobiliário chinês, já perdeu pagamentos de cerca de US$ 20 bilhões em títulos internacionais e ainda não ofereceu um plano de reestruturação viável para a empresa. Ele tentou restaurar a confiança no seu negócio em fevereiro, ao descartar a venda de ativos, alegando que a empresa concluiria metade de seus projetos restantes no decorrer de 2022.
No dia 21 de março, a Evergrande teve suspensa a negociação de suas ações na bolsa de Hong Kong e foi avisada de que precisa informar as autoridades locais sobre como será executada a reestruturação da companhia. No dia seguinte ao anúncio, a gigante chinesa teve cerca de US$ 2,1 bilhões em dinheiro apreendidos por bancos para o pagamento de credores.