EUA reabrem embaixada nas Ilhas Salomão após 30 anos e pressionam a China

Missão diplomática surge em meio a preocupações sobre as ambições militares Beijing na região do Indo-Pacífico

Os Estados Unidos abriram uma embaixada nas Ilhas Salomão na quarta-feira (1º), em sua mais recente ação para frear a crescente influência da China na região do Indo-Pacífico. As informações são da rede BBC.

A embaixada na capital, Honiara, foi inaugurada inicialmente de forma modesta, dispondo de um encarregado de negócios, alguns funcionários do Departamento de Estado e uma equipe de servidores locais. Washington operou anteriormente uma embaixada na nação insular, mas a missão diplomática foi encerrada em 1993, em meio à redução global de postos que acompanhou o fim da Guerra Fria.

O premiê das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, não compareceu à inauguração. Em março de 2022, quando vazou uma carta de intenções indicando que o governo chinês planejava estabelecer uma base militar por lá, Sogavare confirmou que estava prestes a assinar um acordo de segurança com Beijing. Pouco depois do anúncio, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, afirmou que o acordo já havia sido assinado.

Prédio da missão diplomática dos EUA é o mesmo que abrigou a embaixada até 1993 (Foto: U.S. Embassy Port Moresby/Reprodução)

Tal estreitamento de laços foi motivo de preocupação entre Washington e seus aliados, já que as Ilhas Salomão, um território estrategicamente crucial, estão no olho do furacão de uma disputa diplomática que coloca EUA, Austrália e outros parceiros no Indo-Pacífico de um lado e Beijing de outro.  

“A abertura da embaixada baseia-se em nossos esforços não apenas para colocar mais pessoal diplomático em toda a região, mas também para nos envolvermos ainda mais com nossos vizinhos do Pacífico, conectar programas e recursos dos Estados Unidos com necessidades locais e construir relações interpessoais”, disse o secretário de Estado, Antony Blinken, em comunicado.

O principal diplomata dos EUA ainda acrescentou que que “mais do que qualquer outra parte do mundo, a região do Indo-Pacífico, incluindo as ilhas do Pacífico, moldará a trajetória do mundo no século 21”.

O secretário permanente do Ministério das Relações Exteriores das Ilhas Salomão, Collin Beck, deu as boas-vindas à missão diplomática norte-americana. Ele destacou que o ato renova a parceria entre os dois países e representa, ainda, “valores compartilhados”.

A reabertura da embaixada nas Ilhas Salomão ocorre no momento em que Washington negocia a renovação de acordos de cooperação com três nações insulares importantes do Pacífico, as Ilhas Marshall, Micronésia e Palau.

Em setembro do ano passado, durante uma cúpula sobre mudanças climáticas na Casa Branca, Washington já havia conseguido quebrar a resistência das Ilhas Salomão, convencendo Sogavare a assinar um acordo que engloba também outras 13 nações insulares do Pacífico.

Por que isso importa?

As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social, que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e ao movimento do governo para estreitar laços com a China. Há três anos, o governo local trocou a aliança diplomática com Taiwan por uma com Beijing.

Para James Batley, um ex-alto comissário australiano para as Ilhas Salomão e especialista em assuntos sobre Ásia-Pacífico da Universidade Nacional Australiana, o desagrado da população em relação à aproximação com a China serviu como gatilho para a desordem popular que explodiu em novembro de 2021.

“Não é política externa em si, mas acho que essa mudança diplomática alimentou as queixas pré-existentes e, em particular, a sensação de que os chineses interferiram na política nas Ilhas Salomão, que o dinheiro chinês de alguma forma fomentou a corrupção, distorceu a forma como a política funciona nas Ilhas Salomão”, disse Batley.

A relação comercial com a China é considerada particularmente predatória pela população local. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico The Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

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