Exercício militar fortalece aliança entre China e Rússia e amplia tensão no Indo-Pacífico, dizem analistas

Especialistas dizem que as manobras, iniciadas na quinta-feira, são uma resposta à colaboração militar entre EUA, Japão e Coreia do Sul

Os exercícios conjuntos realizados atualmente pelas forças armadas de Rússia e China no Mar do Japão são uma demonstração de força que evidencia o aprofundamento da cooperação militar entre os dois países, com o objetivo de impor maior resistência aos Estados Unidos na região do Indo-Pacífico. A ação tende a ser devidamente respondida pelas nações ocidentais, com o consequente aumento da tensão na região. Esta é a avaliação de analistas ouvidos pela rede Voice of America (VOA).

As manobras tiveram início nesta quinta-feira (20) e se estenderão até domingo (23), com simulações de combate naval e a presença de submarinos russos e chineses. Segundo Moscou, é uma forma de “fortalecer a cooperação” entre as marinhas e de “manter a paz e a estabilidade na Ásia-Pacífico”.

O governo chinês seguiu pelo mesmo caminho. A conta oficial do Ministério da Defesa da China no aplicativo de mensagens WeChat disse que a função das manobras é “salvaguardar a segurança de vias navegáveis ​​estratégicas” no Mar do Japão.

Navios de guerra da marinha chinesa durante treinamento militar (Foto: eng.chinamil.com.cn)

Segundo o jornal Global Times, gerido pelo Partido Comunista Chinês (PCC), é a primeira vez que os aliados realizam manobras navais conjuntas sob a liderança chinesa. Entretanto, o think tank Instituto Internacional de Estudos Estratégicos lembra que em ao menos cinco ocasiões em 2022 houve exercícios militares conjuntos no Mar do Japão e no Mar da China Oriental.

Na visão de Stephen Nagy, especialista em segurança regional da Universidade Internacional Cristã, de Tóquio, não é coincidência que Rússia e China tenham anunciado os exercícios logo após a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) manifestar a intenção de abrir um escritório em Tóquio, o que já havia gerado manifestação de repúdio de Beijing.

Também surge como resposta aos exercícios recentes realizados por EUA, Japão e Coreia do Sul no Mar do Japão, uma via crucial para o aceso das marinhas russa e chinesa ao Pacífico Ocidental.

“Rússia e China estão tentando transmitir ao Japão e aos EUA que estão muito insatisfeitos com sua cooperação na Otan e na região e querem provar que podem alcançar o mesmo nível de cooperação na área”, disse Nagy.

Lin Ying-yu, especialista militar da Universidade Tamkang, em Taiwan, vê as manobras como uma oportunidade para Beijing obter dicas com Moscou sobre a melhor forma de proteger a marinha, aproveitando a experiência prática dos russos na guerra da Ucrânia.

“Durante a guerra na Ucrânia, as forças ucranianas usaram mísseis ou caças para atacar navios russos no mar, então as forças russas têm experiência em lidar com esse tipo de ataque”, disse ele, lembrando que Beijing teria desafios semelhantes no caso de uma invasão a Taiwan. “Cenários da guerra na Ucrânia podem ser simulados no exercício militar conjunto China-Rússia”, completou.

Daqui em diante, Lin projeta um aumento de situações como esta, também para que China e Rússia mostrem coesão ao Ocidente, necessidade ainda maior após o motim fracassado do Wagner Group em Moscou. E isso tende a aumentar a tensão na área, pois não ficará sem uma resposta ocidental.

“Os EUA, o Japão e a Coreia do Sul fortalecerão suas capacidades militares na guerra marítima, bem como aumentarão o número de exercícios relevantes”, projetou Shen Ming-shih, diretor do think tank Instituto de Defesa Nacional e Pesquisa de Segurança em Taiwan.

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