Três pessoas supostamente a serviço do governo da China foram presas nas Filipinas sob suspeita de espionagem, incluindo um cidadão chinês e dois filipinos, após a descoberta de informações sensíveis relacionadas a instalações militares e infraestruturas críticas. A ação ocorreu em meio a tensões crescentes entre Manila e Beijing devido a disputas territoriais no Mar da China Meridional. As informações são da Newsweek.
As autoridades identificaram Deng, um engenheiro de software chinês, como o líder da operação. Ele teria conexões com a Universidade de Ciência e Tecnologia, ligada ao Exército de Libertação Popular (ELP) chinês. Durante uma abordagem em Makati, o homem foi flagrado operando equipamentos de tecnologia da informação e tentou esconder os dispositivos antes de ser detido.
De acordo com o comunicado divulgado pelo Bureau Nacional de Investigação (NBI), os dispositivos apreendidos continham imagens e mapas topográficos de instalações críticas nas Filipinas. A investigação revelou que o veículo monitorado por Deng percorreu a ilha de Luzon de dezembro de 2024 a janeiro de 2025, coletando dados estratégicos.
Outros dois suspeitos, os filipinos Fernande e Besa, admitiram ter atuado como assistentes de Deng, levando-o a instalações militares e governamentais. Entre os locais visitados estavam bases operadas em conjunto com os Estados Unidos, sob o Acordo de Cooperação de Defesa Reforçada entre os dois países.

Segundo Jeremy Lotoc, chefe da divisão de crimes cibernéticos do NBI, Deng pode ser um “agente adormecido” que estaria no país há pelo menos cinco anos. Outros três suspeitos, incluindo dois engenheiros e uma mulher identificada como Wang, estão foragidos e possivelmente na China.
Eduardo Ano, conselheiro de segurança nacional das Filipinas, destacou a importância de reforçar a legislação para combater ameaças como essa. “O recente caso destaca a necessidade de vigilância contínua, maior coordenação entre as agências governamentais e medidas proativas para fortalecer nossa estrutura de segurança nacional”, afirmou.
O chefe das Forças Armadas das Filipinas, Romeo Brawner Jr., informou que os dados coletados incluíam informações de instalações compartilhadas com os EUA, ressaltando a gravidade da ameaça.
Para lidar com incidentes semelhantes, Ano pediu ao Congresso filipino que priorize a aprovação de um projeto de lei contra interferências estrangeiras e a reforma da Lei de Espionagem. “Fortalecer nossa estrutura legal é essencial para enfrentar ameaças de segurança e garantir que aqueles que comprometem nossa segurança nacional enfrentem todo o rigor da lei”, afirmou.
Por que isso importa?
Filipinas e China travam uma disputa territorial por grandes extensões do Mar da China Meridional, uma das regiões mais disputadas do mundo. Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan também estão inseridos na disputa pelos ricos recursos naturais da hidrovia, pela qual passam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em comércio marítimo.
A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países, construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância, além de incentivar a saída de navios pesqueiros para além de seu território marítimo. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania na área.
No caso específico da relação entre Beijing e Manila, a disputa inicial ocorreu no atol de Scarborough Shoal, hoje sob controle chinês. Mas esse não foi o principal palco de desentendimentos. A situação tornou-se particularmente tensa um pouco mais ao sul, em Second Thomas Shoal, onde as Filipinas usam um navio encalhado, o Sierra Madre, como base militar improvisada para fazer valer suas reivindicações.
Embora Second Thomas Shoal esteja na zona econômica exclusiva (ZEE) filipina, a China o reivindica como parte do seu território e exige que o navio encalhado seja removido. Como os pedidos não são atendidos, passou a assediar as missões que levam suprimentos aos militares estacionados ali, a ponto de os EUA terem oferecido escolta armada ao aliado.
Mais recentemente, Beijing adotou estratégia semelhante em Sabina Shoal, com navios de sua Marinha e Guarda Costeira assediando embarcações das Filipinas, que por sua vez acusam Beijing de realizar ações ilegais para assumir o controle da área.
Embora as Filipinas tenham conseguido se estabelecer em duas das três áreas disputadas, têm poucas alternativas para resistir a uma eventual agressão chinesa. Apostam tudo no Tratado de Defesa Mútua de 1951 com os EUA, que prometem partir em defesa do aliado se este for atacado.
Beijing, entretanto, não se deixa afetar. “A China está deliberadamente escalando a situação, com uma provável intenção de testar até que ponto Washington apoiaria Manila”, avaliou à rede CNN Collin Koh, pesquisador da Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam, em Singapura. “Os chineses sabem que Manila tem opções muito limitadas se não puder depender da ajuda dos EUA.”