A China emitiu um alerta contundente às Filipinas contra a aceitação do sistema de mísseis norte-americano Typhon, alegando que essa decisão poderia agravar tensões e aumentar a probabilidade de conflitos no disputado Mar da China Meridional. O aviso ocorre em meio a negociações em Manila sobre a possível aquisição do equipamento militar. As informações são da revista Newsweek.
Wu Qian, porta-voz do Ministério da Defesa da China, criticou publicamente a iniciativa em uma coletiva de imprensa, ressaltando que a presença de armas americanas historicamente traz instabilidade às regiões onde são implantadas.
“História e realidade têm provado repetidamente que, onde há armas dos EUA, há maior risco de conflitos, causando sofrimentos indevidos às populações locais”, afirmou Wu, que pediu a retirada imediata do sistema de mísseis por Manila e Washington.
O sistema Typhon já está presente em território filipino desde abril deste ano, após ser enviado para exercícios militares na ilha de Luzon. Originalmente, o equipamento deveria deixar o país em setembro, mas os aliados decidiram mantê-lo indefinidamente para intensificar treinamentos conjuntos. A plataforma é capaz de lançar mísseis com alcances de até 1,6 mil quilômetros.
As tensões não se limitam às relações bilaterais entre Filipinas e China. Autoridades norte-americanas afirmaram que, em caso de um agravamento da crise envolvendo Taiwan, que Beijing considera parte de seu território, o sistema de mísseis e a força-tarefa associada poderiam ser mobilizados rapidamente. O Japão também pode receber essa estrutura militar como parte da estratégia dos EUA para conter a influência chinesa na região.
O governo chinês já havia manifestado preocupação anteriormente, descrevendo a compra filipina do sistema como “extremamente irresponsável”. E insiste que tais ações exacerbam confrontos no Sudeste Asiático, região estratégica para o comércio global e palco de disputas territoriais.
Além disso, a possível expansão do sistema Typhon para o Japão chamou a atenção da Rússia, que considera retaliar militarmente caso os EUA instalem mísseis de médio alcance na Ásia. Sergey Ryabkov, vice-ministro das Relações Exteriores russo, declarou nesta semana que o Kremlin está preparado para responder com “medidas técnico-militares” em situações semelhantes.
Por que isso importa?
Filipinas e China reivindicam grandes extensões do Mar da China Meridional, que é uma das regiões mais disputadas do mundo. Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan também estão inseridos na disputa pelos ricos recursos naturais da hidrovia, pela qual passam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em comércio marítimo.
A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países, construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância, além de incentivar a saída de navios pesqueiros para além de seu território marítimo. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania na área.
No caso específico da relação entre Beijing e Manila, a disputa inicial ocorreu no atol de Scarborough Shoal, hoje sob controle chinês. Mas esse não foi o principal palco de desentendimentos. A situação tornou-se particularmente tensa um pouco mais ao sul, em Second Thomas Shoal, onde as Filipinas usam um navio encalhado, o Sierra Madre, como base militar improvisada para fazer valer suas reivindicações.
Embora Second Thomas Shoal esteja na ZEE filipina, a China o reivindica como parte do seu território e exige que o navio encalhado seja removido. Como os pedidos não são atendidos, passou a assediar as missões que levam suprimentos aos militares estacionados ali, a ponto de os EUA terem oferecido escolta armada ao aliado.
Mais recentemente, Beijing adotou estratégia semelhante em Sabina Shoal, com navios de sua Marinha e Guarda Costeira assediando embarcações das Filipinas, que por sua vez acusam Beijing de realizar ações ilegais para assumir o controle da área.
Embora as Filipinas tenham conseguido se estabelecer em duas das três áreas disputadas, têm poucas alternativas para resistir a uma eventual agressão chinesa. Apostam tudo no Tratado de Defesa Mútua de 1951 com os EUA, que prometem partir em defesa do aliado se este for atacado.
Beijing, entretanto, não se deixa afetar. “A China está deliberadamente escalando a situação, com uma provável intenção de testar até que ponto Washington apoiaria Manila”, avaliou à rede CNN Collin Koh, pesquisador da Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam, em Singapura. “Os chineses sabem que Manila tem opções muito limitadas se não puder depender da ajuda dos EUA.”