O prestigiado status de Hong Kong como centro financeiro internacional pode ser manchado caso continue a abrigar pessoas ligadas a Vladimir Putin que tentam fugir de sanções ocidentais aplicadas após a invasão na Ucrânia. O alerta foi dado pelos EUA no sábado (8), após a cidade não agir contra um superiate que supostamente pertence a um oligarca próximo ao Kremlin. As informações são do portal Hong Kong Free Press.
Com suntuosos 142 metros de comprimento, o navio de luxo em questão é o Nord, avaliado em US$ 500 milhões. Atracado em águas chinesas desde esta semana, a embarcação seria de propriedade do bilionário russo Alexei Mordashov. Considerado um dos homens mais ricos do planeta, ele fez fortuna no aço, mas também conduz negócios em outras áreas, como carvão, ouro, turismo e mídia.
Mordashov figura em uma lista de oligarcas próximos ao presidente russo que foram sancionados após o início da guerra na Ucrânia. O objetivo das penalidades é apreender os bens de alguns dos homens mais ricos da Rússia e pressionar a economia de Moscou, esforços que visam a pressionar pelo fim da incursão militar.
Em resposta a Washington, Hong Kong disse nesta sexta-feira (14) que, embora implemente sanções da ONU (Organização das Nações Unidas), não pode aplicar as impostas “unilateralmente” por países ou blocos.
“O possível uso de Hong Kong como um porto seguro por indivíduos que fogem de sanções de várias jurisdições põe em dúvida a transparência do ambiente de negócios”, disse um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA. E acrescentou: “A reputação de Hong Kong como centro financeiro depende da adesão às leis e padrões internacionais”.
Diversos ativos de luxo e iates favoritos do presidente russo foram bloqueados após penalidades impostas por Washington. Entre eles o Graceful, de bandeira russa, e o Olympia, de bandeira das Ilhas Cayman, além do superiate Scheherazade, avaliado em US$ 700 milhões e confiscado pela Itália em maio. Roma, citando sanções da União Europeia (UE), também aprendeu em março o Lady M, um iate pertencente a Mordashov.
Um porta-voz do oligarca declarou à Bloomberg News nesta semana que o bilionário estava em Moscou e não quis comentar o assunto.
Por que isso importa?
Segundo Daniel P. Ahn, ex-economista-chefe do Departamento de Estado dos EUA, ações do gênero não são novidade. O que causa impacto dessa vez é a dimensão da medida. “Já vimos apreensões de bens no passado. Vimos iates, apartamentos e outras coisas sendo roubados. Esta é uma diferença de escala, e não uma diferença de instrumento”.
O desafio, segundo Ahn, será identificar os bens pertencentes aos oligarcas. Ele diz que se trata de uma questão de inteligência complicada, vez que indivíduos muito ricos costumam inserir suas propriedades em complicadas redes que envolvem empresas de fachada e mesmo outras pessoas.
Para Jim Richards, fundador e diretor da Consultoria RegTech, muitos bens serão simplesmente entregues pelos oligarcas sem maior resistência, numa tentativa de satisfazer as autoridades sem abrir mão de todas as posses. “Se eu sou um cleptocrata e não quero que eles peguem a maior parte das minhas coisas, vou jogar fora as coisas que todo mundo conhece e esperar que me deixem em paz”.