Hong Kong ordena a retirada de ‘grafite digital’ de protesto exibido em outdoor

Artista digital escondeu nomes, idades e penas de prisão de ativistas pró-democracia presos em Hong Kong em uma instalação

Um artista dos EUA acusou o governo de Hong Kong de ordenar a retirada de uma obra de arte digital contendo os nomes de ativistas pró-democracia que participaram dos gigantescos protestos de 2019. Paralelamente, a polícia de segurança nacional deteve para interrogatório pelo menos seis ex-membros de um sindicato pró-democracia dissolvido após os atos. As informações são da rede Radio Free Asia.

A instalação, intitulada “No Rioters” (“sem desordeiros”, em tradução literal), assinada pelo artista digital norte-americano Patrick Amadon, foi exibida em um outdoor na loja de departamentos Sogo como parte de uma exposição que começou na sexta-feira da semana passada (17), a Art Week 2023. O evento é parte das atividades de reabertura cultural no território semiautônomo após anos de políticas sanitárias por conta da pandemia de Covid-19

No Rioters foi retirado hoje a pedido do governo”, escreveu Amadon em sua conta no Twitter. O trabalho do artista, que se define como um “desobediente grafiteiro digital”, traz, além dos nomes de manifestantes do movimento democrático de quatro anos atrás, um emoji de punho erguido.

Em outro tuíte publicado nesta sexta, Amadon disse que a “obediência silenciosa do mundo da arte em Hong Kong durante a ‘Semana da Arte’ é ensurdecedora”. E acrescentou: “O dinheiro não deveria poder comprar a absolvição”.

Amadon disse que acompanhou de perto os protestos em Hong Kong e queria que seu trabalho mostrasse solidariedade aos manifestantes e lembrasse às pessoas a nova realidade da cidade, segundo relato dado ao site Hong Kong Free Press.

“Foi demais assistir a Art Week em Hong Kong fingindo que o governo chinês não esmagou uma democracia e transformou Hong Kong em um Estado vassalo de vigilância… porque é um local conveniente para um bom mercado”, disse o artista, que reside em Los Angeles.

A remoção veio após o trabalho receber críticas do grupo de mídia Ta Kung Wen Wei, que possui um jornal de circulação diária em Hong Kong e é apoiado pelo Partido Comunista Chinês (PCC). A rede acusou o artista de “apoiar os manifestantes” após examinar a obra quadro a quadro, na qual segmentos de texto piscam brevemente contra o fundo de uma câmera de vigilância em movimento em preto e vermelho.

Flashes de texto exibiam os nomes e sentenças de prisão de ativistas condenados e outras figuras proeminentes do movimento pró-democracia, incluindo o estudioso jurídico Benny Tai e o ex-líder estudantil Joshua Wong, ambos enquadrados e condenados pela Lei de Segurança Nacional. A lei aprovada pelo Congresso da China aumentou o controle chinês sobre a ex-colônia britânica e foi criada para suprimir qualquer ato que possa “ameaçar a segurança nacional”.

“No Rioters”, trabalho de “grafite digital” do artista Patrick Amadon, foi removido em Hong Kong (Foto: Patrick Amadon/Divulgação)

O cancelamento ocorre no mesmo período em que Hong Kong sedia a feira de arte contemporânea Art Basel, com autoridades interessadas em promover a cidade como um “centro cultural vibrante”. Não que o governo local entenda o significado de liberdade artística.

Nesta semana, a exibição de ‘Winnie the Pooh: Blood and Honey’ (“O Ursinho Pooh: Sangue e Mel”, em tradução literal, ainda sem título em português), filme britânico que faz uma paródia sanguinária e aterrorizante do clássico da Disney, teve estreia cancelada também em Macau.

Hong Kong acena para a censura vigente na China, onde as autoridades têm o poder de criminalizar expressões artísticas tidas como “subversivas”.

Em outro caso de censura à arte registrado em dezembro, o “Pilar da Vergonha”, obra assinada pelo dinamarquês Jens Galschiot, foi retirada do campus da Universidade de Hong Kong, onde permaneceu por 24 anos lembrando do Massacre da Praça da Paz Celestial.

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