Jornalistas relatam intimidação por autoridades chinesas nos Jogos de Inverno Beijing 2022

Repórter holandês foi arrastado por um oficial de segurança quando fazia uma transmissão durante a cerimônia de abertura

Jornalistas estrangeiros que trabalham na cobertura dos Jogos de Inverno Beijing 2022 manifestaram repúdio nas redes sociais após um agente de segurança chinês ter retirado à força um repórter holandês enquanto ele participava de um link ao vivo durante a cerimônia de abertura, na última sexta-feira (4). As informações são do portal Axios.

Sjoerd den Daas, correspondente na China da emissora estatal holandesa NOS, foi arrastado enquanto falava diante das câmeras do lado de fora do Estádio Nacional de Beijing, popularmente conhecido como Ninho de Pássaro.

O repórter holandês Sjoerd den Daas foi abordado por um oficial chinês enquanto entrava ao vivo do Estádio Nacional de Beijing (Foto: NOS/Captura de tela)

Edward Lawrence, correspondente da rede BBC baseado na China, lamentou o episódio em sua conta no Twitter. “Sinto muito, mas esse tipo de coisa não é um ‘evento isolado’ e acontece regularmente com jornalistas de mídia estrangeira residentes na China”, disse ele no Twitter.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) justificou o incidente, argumentando que Sjoerd den Daas foi retirado por um guarda “excessivamente zeloso”, de acordo com as palavras de um porta-voz da entidade. “Coisas assim acontecem às vezes. Garantimos que você está dentro da ‘bolha fechada’ e pode continuar fazendo seu trabalho”, disse o COI à imprensa.

Den Dass também tuitou sobre o incidente. “Quando perguntados, eles [os oficiais] não podiam dizer o que tínhamos feito de errado”, escreveu ele, que acrescentou: “É difícil ver o incidente da noite passada como um incidente isolado, como afirma o COI”.

Antoine Morel, correspondente da TV estatal francesa France 24, também relatou problemas. No domingo (6), ele foi reprimido por ouvir pessoas nas ruas. “Fui parado pela segurança em Wangfujing [uma rua em Beijing]. Mostrei meu crachá de imprensa. Fui informado que entrevistar as pessoas para perguntar se elas estão gostando dos Jogos Olímpicos não é permitido”, disse ele.

A reportagem observa que, em comparação com os Jogos Olímpicos Beijing 2008, neste ano as autoridades chinesas “parecem menos interessadas ​​em obter a aprovação das democracias ocidentais e de seus repórteres”, estando mais interessadas ​​em “demonstrar que suas regras são mais importantes”.

Mark Clifford, presidente do Comitê para a Liberdade em Hong Kong e ex-editor-chefe do South China Morning Post, contextualizou a situação tomando como base também os Jogos de Verão realizados há 14 anos no país e citando como o regime atual quer se apresentar à comunidade internacional.

“Em 2008, a China ainda queria aprender com o mundo, exibindo suas realizações e sua civilidade. Agora, eles querem que o mundo se acostume com o poder chinês e aceite a afirmação de Xi Jinping de que seu governo totalitário é melhor do que a democracia”, ressalta.

Provocação

No mês passado, um grupo de parlamentares dos EUA, de maioria republicana, enviou uma carta ao alto escalão da rede de televisão norte-americana NBCUniversal instando a direção a repercutir protestos sobre direitos humanos durante as transmissões, reconhecendo o contexto geopolítico.

Durante a cerimônia de abertura, a âncora da NBC News e co-anfitriã dos Jogos, Savannah Guthrie, chamou de “decisão impressionante” a escolha das autoridades chinesas por um esquiador uigur para acender a pira olímpica. A minoria étnica, formada por muçulmanos que habitam predominantemente a região autônoma de Xinjiang, tem sido perseguidos por acusação de “extremismo religioso”.

“É tão impressionante e tão provocativo do [presidente chinês] Xi Jinping, e uma mensagem real”, narrou Guthrie.

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