Excluída pelos EUA, China cria seu próprio fórum e tenta se vender como ‘democracia’

Beijing contesta cúpula organizada por Biden, diz que democracia dos EUA se baseia na hegemonia e estabelece seu conceito democrático distorcido

A partir desta quinta-feira (9), durante dois dias, acontece a Cúpula Pela Democracia, um evento virtual organizado pelos Estados Unidos e com a presença de cerca de cem países convidados. Excluída, a China tratou de realizar seu próprio Fórum Internacional da Democracia, no último final de semana. Uma tentativa de o governo Xi Jinping se vender como uma democracia, só que dentro de seus próprios conceitos distorcidos, segundo a rede norte-americana CNN.

No discurso de abertura do evento organizado por Beijing, no último sábado (4), Huang Kunming, chefe da propaganda do Partido Comunista Chinês (PCC), descreveu a China como uma “verdadeira democracia que funciona”. E apresentou uma publicação intitulada “China: Democracia que Funciona”.

Diz o documento: “Não existe um modelo fixo de democracia; ela se manifesta em muitas formas. Avaliar a miríade de sistemas políticos do mundo em um único padrão e examinar diversas estruturas políticas monocromáticas é em si antidemocrático”.

O presidente chinês, Xi Jinping: China criou seu próprio conceito de democracia (Foto: Divulgação/Kremlin)

O evento organizado pela China foi claramente uma resposta à esnobada norte-americana, que também deixou a Rússia de fora da cúpula. “A democracia é um valor compartilhado pela humanidade, ao invés de uma patente que só pode ser definida por alguns países”, disse a rede de TV estatal chinesa CGTN, num recado claro a Washington.

Além de tentar vender a ideia que de é um país democrático, a China tem constantemente atacado os conceitos democráticos norte-americanos. “O propósito dos EUA não reside na democracia, mas na hegemonia“, disse no início de dezembro o conselheiro de Estado e ministro das Relações Exteriores Wang Yi, segundo o jornal estatal China Daily. “Os EUA procuram se intrometer nos assuntos internos de outros países sob a bandeira da democracia e abusar dos valores democráticos para criar divisões”, acrescentou.

A autodeclarada “democracia” chinesa não emplaca nos países desenvolvidos, que jamais deixaram de tratar Beijing como um governo autoritário. Entretanto, Dali Yang, cientista político da Universidade de Chicago, entende que a propaganda da China pode encontrar maior receptividade em certas nações em desenvolvimento. Isso porque o autoritarismo de Xi é acompanhado pelo desenvolvimento econômico.

“Acho que parte da ênfase na produção de resultados pode realmente ser persuasiva para as pessoas”, disse Yang. “Não se pode subestimar a porcentagem de pessoas que estão dispostas a sacrificar alguns elementos da democracia por um melhor bem-estar econômico”.

Por que isso importa?

Com base na definição de democracia da ONU (Organização das Nações Unidas), a China claramente não se enquadra no conceito. Afinal, o país tem um sistema de partido único que está no poder há sete décadas, não tem separação de poderes ou independência do judiciário, a mídia é censurada, as liberdades de associação, expressão e opinião não existem e o sistema político não comporta eleições periódicas livres e justas por sufrágio universal.

No “ranking da liberdade” da ONG Freedom House, com sede em Washington, a China está entre os últimos colocados, com base em 25 medidas de direitos políticos e liberdades civis. O país soma apenas nove pontos de cem possíveis, acima apenas de outras 13 nações que têm pontuação ainda mais baixa.

Na China, o simples fato de citar a democracia leva à repressão do Estado. Algo que ficou claro nos protestos de 2019 em Hong Kong, que até hoje rendem prisões e denúncias contra seus organizadores e participantes. Segundo a ONG Hong Kong Watch, baseada no Reino Unido, até o dia 31 de janeiro deste ano, 10.294 pessoas foram presas por motivação política em Hong Kong, sendo que cerca de 2,3 mil foram posteriormente processadas pelo Estado.

A internet também deixa claro que os valores democráticos não têm vez na China, que bloqueia as redes sociais dos EUA e utiliza suas próprias versões, estas submetidas à censura do PCC. É o caso do Weibo, versão chinesa do Twitter. Lá, uma postagem do jornal estatal People’s Daily sobre o ataque do Ministério das Relações Exteriores à democracia norte-americana recebeu inicialmente cerca de 2,7 mil comentários. Depois de a censura começar a agir, restaram pouco mais de uma dúzia.

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