A lentidão do trânsito da cidade de Karachi, ao sul do Paquistão, não se dá por acaso: além de concentrar a terceira maior população do mundo, o local possui uma infinidade de obras inacabadas.
De acordo com a Bloomberg, as obras partiram de um esforço para modernizar a metrópole que, em 2017, somava mais de 14,9 milhões de habitantes. Anos depois, boa parte está abandonada.
Pelo menos 40% da população local utiliza o sistema de transporte público – considerado o pior do mundo, de acordo com o estudo da empresa de autopeças Mister Auto, em 2019.
Dos ônibus superlotados às estradas defasadas, transitar por Karachi é um desafio sobretudo para comerciantes, que têm na cidade o principal porto do Paquistão e a sede regional de multinacionais.
As empresas são as responsáveis por gerar metade da receita tributária local, mas os recursos não ficam em Karachi. A Prefeitura possui apenas 12% do controle administrativo da cidade e é o Exército quem controla as áreas mais ricas do lugar.
O resto é dividido entre o governo da província e o governo federal – inimigos políticos.
Assim, Karachi conquistou a alcuna de “órfão político”, como afirmou o consultor da think tank DAI, Arsalan Ali Faheen. “Os problemas de Karachi pertencem, ao mesmo tempo, a todos e a ninguém”.
Infraestrutura mortal
Os problemas de Karachi se estendem à infraestrutura. Em agosto, uma semana de chuvas foi suficiente para inundar boa parte da cidade. Estima-se que 60 pessoas morreram e mais de 10 mil tiveram de ser resgatadas.
Em seguida, o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, anunciou um pacote de desenvolvimento estimado em US$ 6,8 bilhões para ajustar as demandas da cidade.
Os recursos, no entanto, ultrapassam o valor acordado com o FMI (Fundo Monetário Internacional), enviado para evitar que o país entre em falência com a crise da pandemia do novo coronavírus.
Ao longo dos anos, a população presenciou diversas promessas de uma nova frota de ônibus e uma linha ferroviária circular efetiva. Na prática, os projetos nunca saíram do papel. Karachi aguarda a reativação da linha ferroviária há pelo menos 15 anos.
Além disso, mesmo na área mais rica da cidade não há água encanada – fator que favorece a “máfia dos tanques”. Organizações criminosas se aproveitam da falta de abastecimento de água para enriquecer a custa de um preço superinflado e qualidade questionável.
De acordo com o ministro de planejamento do Paquistão, Asad Umar, o governo federal assumiu o projeto dos ônibus urbanos e deve entregar novos veículos até junho de 2021. Já o porta-voz do governo da província de Sindh não respondeu aos pedidos de comentário.