Líder democrática de Mianmar é transferida da prisão para instalação do governo

Aung San Suu Kyi, deposta durante o golpe militar de 2021, teve encontro com representante do governo e deve falar com enviado chinês

A líder democrática deposta de Mianmar foi transferida para prisão domiciliar depois de ser detida pelos militares após o golpe de Estado orquestrado em fevereiro de 2021. Aung San Suu Kyi passou um ano em confinamento solitário antes de ser levada para um prédio do governo em Naipidau na última segunda-feira (24). As informações são da rede BBC.

Aos 78 anos, Suu Kyi cumpre uma sentença de 33 anos, imposta após julgamentos militares secretos. A mudança para prisão domiciliar pode ser interpretada como um sinal positivo, considerando os apelos internacionais para sua libertação, e foi confirmada por fontes do partido deposto Liga Nacional pela Democracia (NLD, da sigla em inglês), ao qual é ligada.

Segundo um alto membro do NDL, que falou sob condição de anonimato à agência AFP, Suu Kyi foi transferida para um complexo de alto nível no começo da semana. A fonte também confirmou que ela se reuniu com o presidente da câmara baixa do país, Ti Khun Myat, e provavelmente se encontrará com Deng Xijuan, enviado especial da China para Assuntos Asiáticos, que está em visita ao país.

A política birmanesa Aung San Suu Kyi (Foto: WikiCommons)

Há preocupações sobre a saúde da ganhadora do Prêmio Nobel. Durante seu julgamento em um tribunal da junta, ela foi obrigada a comparecer a audiências quase diárias. Suu Kyi recebeu uma sentença de 33 anos de prisão por várias acusações, incluindo corrupção, posse ilegal de walkie talkies e desrespeito às normas sanitárias do coronavírus. Ela rechaça as acusações.

Grupos de direitos humanos definem o julgamento como uma farsa, projetada para eliminar a popular líder política. Em junho de 2022, após mais de um ano em prisão domiciliar em Naipidau, Suu Kyi foi transferida para uma prisão em outra parte da capital.

Em julho, o ministro das Relações Exteriores da Tailândia afirmou ter se encontrado com Suu Kyi, marcando a primeira reunião conhecida com um representante estrangeiro desde sua detenção.

Mesmo após sua imagem internacional ser prejudicada por seu acordo de compartilhamento de poder com os generais e por não ter defendido a perseguida minoria rohingya, Suu Kyi continua extremamente popular em Mianmar.

Após o golpe, diversos membros seniores do NLD foram presos ou forçados a se esconder na clandestinidade.

De acordo com um grupo de monitoramento local, mais de 3.800 pessoas foram mortas desde que os militares tomaram o poder.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo militar foi uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o partido NLD (Liga Nacional pela Democracia, da sigla em inglês) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro de 2021, então, a junta militar, que já havia impedido a sigla de assumir o poder antes, prendeu a líder democrática Aung San Suu Kyi, dando início a protestos respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais.

As ações abusivas da junta levaram ao isolamento global de Mianmar, e em dezembro de 2022 o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta os militares a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige “o fim imediato de todas as formas de violência” e pede que “todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o Estado de Direito”.

A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2022 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.

Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar, inclusive vetando resoluções que venham a condenar a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral, como no caso de dezembro de 2022.

Inicialmente, o golpe de Estado foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu financeiramente com a queda. Mas o cenário mudou rapidamente. Para não se distanciar da junta, Beijing classificou a prisão de Suu Kyi e de outros funcionários do governo como uma “remodelação de gabinete”, palavras usadas pela agência de notícias estatal Xinhua.

A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.

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