Militar chinês que lutou contra Índia no Himalaia carrega tocha olímpica e irrita Nova Délhi

Governo indiano classificou como "lamentável a escolha do soldado, que participou de combate com mais de 20 mortos

A Índia não participou da cerimônia de abertura dos Jogos de Inverno Beijing 2022 nesta sexta-feira (4). O motivo: um dos 1,2 mil portadores da tocha olímpica, símbolo máximo da competição, foi um militar chinês que lutou no sangrento confronto contra as forças indianas no Himalaia em 2020, escolha que causou indignação em Nova Délhi. As informações são do jornal The New York Times.

O coronel Qi Fabao foi comandante de regimento do exército chinês que atacou a Índia na fronteira, onde armas de fogo são proibidas e o combate foi travado corpo a corpo. Durante a batalha, travada com pedaços de paus, pedras e escudos, ele sofreu um corte de dez centímetros na testa.

Diante da afronta aos nacionalistas hindus, a escolha foi rapidamente denunciada pelo governo indiano, que anunciou na quinta-feira (3) que seu principal diplomata em Beijing se ausentaria tanto da abertura quanto do encerramento dos Jogos. O porta-voz de Relações Exteriores da Índia, Arindam Bagchi, declarou no mesmo dia que é “lamentável que o lado chinês tenha escolhido politizar um evento como os Jogos Olímpicos”. A Doordarshan, TV estatal indiana, anunciou que não iria transmitir as cerimônias.

Presidente do COI Thomas Bach durante o revezamento da tocha antes da abertura dos Jogos Beijing 2022 (Foto: COI/Flickr)

Os combates de 2020 eclodiram ao longo da cordilheira numa disputa de porções de terra, no leste de Ladakh. As tropas chinesas mataram 20 soldados indianos, enquanto Beijing anunciou que teve quatro baixas. O coronel Qi recebeu mais tarde o título honorário de Herói da Defesa da Fronteira, mesma condecoração dada aos soldados do seu batalhão que perderam a vida no confronto.

Questionado sobre a escolha de um herói de guerra chinês durante coletiva de imprensa na quinta, Thomas Bach, presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), lembrou de situação semelhante na abertura dos Jogos de 2012 em Londres, quando um veterano britânico ferido no Afeganistão, onde perdeu as duas pernas, foi autorizado a carregar a pira olímpica. A Índia apoiou o governo afegão por muitos anos contra o Taleban.

Diante de denúncias recorrentes de violações de direitos humanos por parte do governo chinês, diversos países anunciaram um boicote diplomático aos Jogos de Inverno Beijing 2022, que seguem até o dia 20 de fevereiro. Os motivos são a repressão chinesa contra o Tibete, o cerceamento das liberdades individuais em Hong Kong e a ameaça de invasão de Taiwan pela China continental, que considera a ilha como parte de seu território.

Por que isso importa?

disputa pela fronteira entre China e Índia começou em 1962, em meio à guerra entre os dois países. No final dos anos 80, o então primeiro-ministro indiano Rajiv Gandhi buscou reestabelecer os laços com Beijing.

Desde então, a fronteira se manteve calma, com os dois países concordando em adotar diretrizes de administração da região. Em 1993, as nações assinaram um acordo de paz.

As tensões voltaram a aumentar após medidas tomadas pelas autoridades indianas, como o apoio às demandas por autonomia do Tibete, a crescente cooperação de defesa com EUA, Japão e Austrália, e restrições de investimentos chineses na Índia.

Do outro lado, as relações se estreitaram entre China e Paquistão — que tem disputas de longa data com a Índia, como a questão da Caxemira — e Nepal, que não agradam Nova Délhi.

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