Morte de pescadores em operação de segurança gera troca de acusações entre China e Taiwan

Barco das vítimas virou enquanto era perseguido pela Guarda Costeira taiwanesa, ação classificada por Beijing como 'maligna'

A China fez críticas às autoridades de Taiwan após dois pescadores chineses perderem a vida durante uma perseguição pela Guarda Costeira taiwanesa nas proximidades do arquipélago de Kinmen. O incidente ocorreu quando uma lancha chinesa, com quatro ocupantes a bordo, virou na quarta-feira (14), lançando todos na água, conforme relatado por autoridades chinesas e taiwanesas. As informações são do jornal The Guardian.

Zhu Fenglian, porta-voz do escritório chinês de assuntos relacionados a Taiwan, manifestou que o episódio “afetou gravemente os sentimentos dos compatriotas” de ambos os lados do estreito de Taiwan. Ele também pediu que as autoridades taiwanesas investiguem imediatamente o incidente.

Do outro lado, em comunicado, a guarda costeira da ilha semiautônoma afirmou que a lancha entrou ilegalmente nas águas taiwanesas, conforme relatado pela Agência Central de Notícias de Taiwan (CNA). A CNA também informou que, após a solicitação da guarda costeira para inspecionar o barco, este resistiu e acabou virando ao tentar fugir.

Navio patrulha da Guarda Costeira de Taiwan (Foto: WikiCommons)

O documento também destaca que nos últimos anos, um pequeno grupo de pessoas do continente invadiu as águas de Taiwan para realizar atividades prejudiciais ao meio ambiente, como dragagem de areia e despejo de lixo. Também menciona que, nos últimos dias, muitos barcos registrados na China entraram nas águas taiwanesas para pescar peixes valiosos durante o Ano Novo Lunar.

O documento ressalta a necessidade de ações legais para expulsar esses invasores, afirmando que a guarda costeira “tem o dever de reforçar a aplicação da lei para proteger os direitos das pessoas”.

Já o Conselho de Assuntos do Continente de Taiwan expressou pesar pelo “incidente infeliz”, destacando que a ação da Guarda Costeira de Taiwan foi considerada legal e apropriada após uma investigação inicial, conforme comunicado divulgado nesta quinta-feira (15), reproduziu a rede Bloomberg. O governo taiwanês culpou a tripulação do barco naufragado por se recusar a cooperar.

As ilhas Kinmen estão localizadas a poucas milhas da costa de Fujian, na China, mas estão sob controle de Taiwan.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas Forças Armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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