‘O fim da junta militar está próximo’, afirma líder de grupo rebelde de Mianmar

Segundo Duwa Lashi La, soldados que servem ao governo não têm motivação para lutar e desertam em um ritmo sem precedentes

As recentes conquistas dos grupos rebeldes que enfrentam as forças do governo em Mianmar colocaram a junta militar com as costas contra a parede, e uma vitória definitiva está próxima. Essa é a avaliação de Duwa Lashi La, líder do Governo de Unidade Nacional (NUG, na sigla em inglês), grupo que estabeleceu um regime paralelo para enfrentar a ditadura. As informações são da rede Radio Free Asia.

“Vimos uma deserção em massa e uma rendição de soldados da junta militar sem precedentes. Olhando para isto, pode-se dizer que o fim da junta militar está próximo”, disse o líder rebelde. “As tropas da junta enfrentam diariamente uma situação em que seus soldados se rendem ou são capturados em batalhas”, completou.

Para fortalecer a luta contra a junta, os rebeldes formaram uma coalizão batizada de Aliança das Três Irmandades. Ela é formada por três grandes milícias, o Exército da Aliança Democrática Nacional de Mianmar (MDNAA, da sigla em inglês), o Exército de Libertação Nacional de Ta’ang (TNLA) e o Exército Arakan (AA).

Duwa Lashi La, líder do Governo de Unidade Nacional de Mianmar (Foto: reprodução/Facebook)

Nos últimos meses, a aliança vem anunciando frequentes conquistas estratégicas, retirando de posições cruciais os soldados das Forças Armadas a serviço da junta. Inclusive, os rebeldes assumiram o controle de instalações militares, ganhando assim acesso a armas e outros equipamentos que acabam sendo empregados na luta.

Em novembro, o presidente do Conselho de Administração do Estado, Myint Swe, chegou a afirmar em reunião do Conselho de Defesa e Segurança Nacional que o país corria o risco de “ser dividido em várias partes” caso o governo não conseguisse “gerir eficazmente os incidentes que acontecem na região fronteiriça.”

Por sua vez, Min Aung Hlain, que lidera a junta, admitiu na mesma época que suas tropas haviam sido forçadas a “abandonar alguns postos” no estado de Shan devido a uma pesada ofensiva rebelde. Foi uma rara confissão de fracasso do ditador que comanda o país desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021.

Mais recentemente, em dezembro, em mais uma grande conquista da aliança, dezenas de soldados a serviço da junta teriam sido encurralados e obrigados a fugir do país rumo à Índia. Embora tenham sido autorizados a entrar, Nova Délhi prometeu que os militares seriam enviados de volta a Mianmar.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo militar foi uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o partido NLD (Liga Nacional pela Democracia, da sigla em inglês) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro de 2021, então, a junta militar, que já havia impedido a sigla de assumir o poder antes, prendeu a líder democrática Aung San Suu Kyi, dando início a protestos respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais.

As ações abusivas da junta levaram ao isolamento global de Mianmar, e em dezembro de 2022 o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta os militares a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige “o fim imediato de todas as formas de violência” e pede que “todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o Estado de Direito”.

A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2022 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.

Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar, inclusive vetando resoluções que venham a condenar a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral, como no caso de dezembro de 2022.

Inicialmente, o golpe de Estado foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu financeiramente com a queda. Mas o cenário mudou rapidamente. Para não se distanciar da junta, Beijing classificou a prisão de Suu Kyi e de outros funcionários do governo como uma “remodelação de gabinete”, palavras usadas pela agência de notícias estatal Xinhua.

A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.

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