A Wikipédia foi bloqueada no Paquistão no sábado (4) por hospedar “conteúdo blasfemo”. A enciclopédia online havia recebido um prazo de 48 horas do regulador de mídia local para remover material não especificado que “fere o sentimento muçulmano”. As informações são da rede BBC.
Em comunicado emitido no mesmo dia, a Wikimedia Foundation, fundo sem fins lucrativos que administra a Wikipédia, disse que a medida significa que a quinta nação mais populosa do mundo não terá acesso “ao maior repositório de conhecimento gratuito”. Críticos ao governo denunciaram a medida imposta por Islamabad, dizendo que foi um golpe aos direitos digitais.
A Autoridade de Telecomunicações do Paquistão (PTA, da sigla em inglês) disse que a plataforma não cumpriu integralmente a ordem. “Essas coisas ferem os sentimentos dos muçulmanos”, disse Malahat Obaid, porta-voz do órgão regulador.
“Eles removeram parte do material, mas não todo”, acrescentou, confirmando que o site permaneceria bloqueado até que “todo o material censurável” fosse removido.
Ele acrescentou que as autoridades paquistanesas estão conversando com funcionários da Wikipédia e que a proibição poderia ser suspensa se a plataforma cumprir a determinação de remover completamente o conteúdo anti-islâmico.
A medida foi recebida por ativistas pela liberdade de expressão com preocupação, já que parecia haver “um esforço concentrado para exercer maior controle sobre o conteúdo na internet”.
“O objetivo principal é silenciar qualquer dissidência”, disse Usama Khilji, ativista de direitos digitais. “Muitas vezes a blasfêmia é armada para esse propósito”, acrescentou.
A Digital Rights Foundation, uma organização de defesa de apoio aos direitos humanos, a democracia e a governança digital, definiu o movimento de Islamabad como “uma afronta ao direito dos paquistaneses de acessar informações” e um escárnio do país em suas obrigações de defender suas obrigações dos direitos dos seus cidadãos.
Recentemente, o Paquistão também baniu o TikTok duas vezes por conteúdo “imoral, obsceno e vulgar”. Anteriormente, em 2008, o governo proibiu o YouTube de disponibilizar vídeos que retratavam o profeta Maomé, já que os muçulmanos acreditam que qualquer representação física do profeta do Islã é uma blasfêmia.
Em junho ano passado, a Wikimedia Foundation recebeu multa de cerca de 449 mil reais por se recusar a excluir conteúdo sobre as ações das tropas de Vladimir Putin, como o massacre de Bucha.