Premiê da Ilhas Salomão visita a China em meio a disputa por influência com a Austrália

Agenda soa como uma resposta à Austrália, que no final de junho propôs a ampliação da cooperação militar com Honiara

Manasseh Sogavare, primeiro-ministro das Ilhas Salomão, fará neste final de semana uma visita à China, a segunda em quatro anos. A agenda, que servirá para uma “troca de opiniões sobre as relações bilaterais”, é mais um episódio da crescente disputa por influência travada entre Beijing e o Ocidente na região do Pacífico, tendo a pequena nação insular como protagonista.

Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, confirmou a visita durante coletiva de imprensa na quinta-feira (6), de acordo com a rede Radio Free Asia (RFA). A passagem de Sogavare pelo território chinês envolverá visitas a Beijing, Jiangsu e Guangdong.

“Os líderes dos dois países terão profunda troca de opiniões sobre as relações bilaterais e questões internacionais e regionais de interesse mútuo”, disse Wang em coletiva de imprensa. Ele acrescentou que será mais uma oportunidade para “aprofundar a confiança política mútua, expandir a cooperação prática e aprimorar o intercâmbio cultural e interpessoal.”

A visita do premiê salomônico soa como uma resposta chinesa à Austrália, que no final de junho propôs a ampliação do acordo de cooperação militar entre os dois países. Firmado em 2017, o pacto prevê o envio de tropas australianas adicionais à nação insular, onde Camberra mantém mais de 200 soldados desde 2021, a pedido do governo local.

Premiês das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare (esq.), e da China, Li Keqiang (Foto: fmprc.gov.cn)
Influência chinesa crescente

No final de março de 2022, a China havia conquistado uma importante vitória na disputa por influência com o Ocidente ao firmar um acordo de segurança com Honiara. Na ocasião, vazou o que seria uma carta de intenções, segundo a qual Beijing estabeleceria uma base militar nas Ilhas Salomão. 

No documento, uma empresa chinesa de engenharia “demonstra intenção de estudar a oportunidade de desenvolver projetos navais e de infraestrutura em terrenos arrendados para a Marinha do Exército de Libertação Popular (ELP), para a Província de Isobel, com direitos exclusivos por 75 anos.”

Na mesma época em que a carta veio a público, Sogavare confirmou que estava prestes a assinar o acordo de segurança com a China. Na ocasião, definiu como “insultantes” as preocupações australianas e neozelandesas de que o pacto poderia causar instabilidade na segurança da região.

Pouco depois do anúncio, Wang Wenbin afirmou que o acordo já havia sido assinado. Ele não especificou quando e onde ocorreu a assinatura, que também foi confirmada pela embaixada chinesa em Honiara.

Por que isso importa?

As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social, que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e ao movimento do governo para estreitar laços com a China. Há três anos, o governo local trocou a aliança diplomática com Taiwan por uma com Beijing.

Para James Batley, um ex-alto comissário australiano para as Ilhas Salomão e especialista em assuntos sobre Ásia-Pacífico da Universidade Nacional Australiana, o desagrado da população em relação à aproximação com a China serviu como gatilho para a desordem popular que explodiu em novembro de 2021.

“Não é política externa em si, mas acho que essa mudança diplomática alimentou as queixas pré-existentes e, em particular, a sensação de que os chineses interferiram na política nas Ilhas Salomão, que o dinheiro chinês de alguma forma fomentou a corrupção, distorceu a forma como a política funciona nas Ilhas Salomão”, disse Batley.

A relação comercial com a China é considerada particularmente predatória pela população local. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico The Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

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