Repressão online por parte da China atingiu um novo patamar em 2024, afirma dissidente

Segundo Li Ying, autoridades monitoram redes sociais e convocam seguidores e familiares de críticos do regime para interrogatórios

A repressão online na China atingiu um novo patamar em 2024, segundo o dissidente Li Ying, conhecido como “Professor Li”. Em entrevista à Radio Free Asia (RFA), ele afirmou que autoridades chinesas passaram a monitorar seus 1,8 milhão de seguidores na rede social X, antigo Twitter, convocando alguns para interrogatórios e pressionando familiares e amigos. “Eles começaram a me atacar de todas as formas no início do ano, incluindo perseguir meus pais, meus amigos, qualquer pessoa que me conhecesse”, denunciou.

Li ganhou notoriedade durante o Movimento do Livro Branco, em 2022, quando seu perfil se tornou um dos principais canais de divulgação de vídeos e relatos sobre protestos contra a política “Zero Covid” de Beijing. Desde então, sua atividade atraiu a atenção do governo, mas ele afirma que a perseguição agora se tornou mais agressiva e sistemática. “Acho que nunca antes a repressão online chegou ao ponto de irem atrás de quem segue uma pessoa específica”, afirmou.

Conteúdo online sofre forte censura por parte do regime chinês (Foto: WikiCommons)

Segundo o dissidente, a ofensiva das autoridades chinesas envolve táticas variadas, que vão desde ataques coordenados em redes sociais até censura direta de postagens e mensagens privadas. Ele relatou que sua conta recebe centenas de mensagens ofensivas por dia e que a campanha de intimidação não se limita ao ambiente digital. “Sei que a Administração do Ciberespaço envia todos os meus posts para os censores diariamente, alertando-os para impedir que qualquer informação apareça na internet da China”, disse.

Além de acompanhar de perto os seguidores de perfis críticos ao governo, as autoridades chinesas também aumentaram a vigilância sobre aqueles que compartilham ou interagem com conteúdos considerados sensíveis. Li Ying aponta que essa estratégia tem como objetivo espalhar medo e desencorajar qualquer forma de engajamento com informações que escapam do controle estatal.

Outro método utilizado pela repressão chinesa é o que o dissidente chama de “intimidação por associação”. Ele explica que, além de rastrear e interrogar seguidores, o governo tem convocado parentes e amigos de ativistas para prestar esclarecimentos, exercendo pressão indireta sobre os dissidentes. Segundo Li, essa prática tem se tornado mais frequente nos últimos meses.

Apesar das ameaças, o jornalista afirma que continuará sua atividade, expondo abusos do governo chinês. “Se um cara comum como eu pode preocupar tanto o Partido Comunista Chinês (PCC), há muitas pessoas mais talentosas que poderiam fazer ainda mais”, declarou.

Ele também reconhece o custo pessoal de sua atuação: “Provavelmente nunca mais verei meus pais. Sei que há uma cela de prisão na China com meu nome nela, é só uma questão de tempo.”

A repressão online na China tem se intensificado nos últimos anos, à medida que o PCC busca restringir o acesso a informações não controladas pelo governo. Com a vigilância digital cada vez mais sofisticada, plataformas estrangeiras como o X, que ainda oferecem algum grau de liberdade de expressão, estão na mira de Beijing. Especialistas apontam que o caso de Li Ying reflete um padrão mais amplo de repressão contra ativistas e jornalistas independentes.

Mesmo diante da crescente perseguição, o dissidente afirma que continuará a divulgar informações censuradas e espera que mais chineses percebam a necessidade de mudanças. “Se uma única pessoa pode causar essa reação, imaginem o que milhões podem fazer”, concluiu.

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