Taiwan define novas regras para o alistamento militar, dificultando as dispensas

Objetivo é aumentar a quantidade de cidadãos aptos a servir às forças armadas em meio tensão com a China e ao temor de invasão

O governo de Taiwan anunciou recentemente a intenção de aplicar mudanças nas suas regras para o alistamento militar, com o objetivo de aumentar a quantidade de cidadãos aptos a servir às forças armadas. A mudança ocorre em meio ao aumento da tensão com a China e ao temor de uma invasão. As informações são do jornal online Taiwan News.

As eventuais novas regras referem-se questões físicas, como altura e IMC (índice de massa corporal) daqueles considerados aptos a servir às forças armadas. Atualmente, são aceitos apenas homens que meçam entre 1,58 m e 1,95 m. Com a mudança, passariam a ser considerados homens a partir de 1,55 m. Já o IMC dos aptos, que antes precisava estar entre 17 e 31, passará para o intervalo 16,5 a 32.

As mudanças também incluiriam regras de dispensa mais rígidas para pessoas com anemia, doenças cardiovasculares, problemas de visão, hipotireoidismo, síndrome de Tourette, lesões no joelho e hérnia de disco espinhal.

Conforme as regras legislativas da ilha, a população tem até o dia 17 de outubro para se manifestar sobre a questão. De acordo com o Ministério da Defesa, a medida visa a “abordar melhor a natureza mutável da guerra moderna”.

Soldados taiwaneses: governo trabalha para aumentar seu efetivo militar (Foto: WikiCommons)
Investimento em Defesa

Diante da ameaças chinesas, o governo taiwanês tem aumentado os gastos com defesa, investindo principalmente na aquisição de armas dos Estados Unidos. Paralelamente, vem tentando emplacar mudanças nas suas forças para resolver problemas de longa data com treinamento e recursos.

Nesse sentido, em março, o território semiautônomo havia considerado a possibilidade de estender o serviço militar obrigatório de quatro meses para um ano. À época, o ministro da Defesa Chiu Kuo-cheng afirmou que não haveria imediatismo e que qualquer mudança nesse sentido só entraria em vigor um ano depois de anunciada e mediante consulta aos legisladores.

Desde 2013, todos os homens acima de 18 anos são obrigados a cumprir quatro meses de serviço de formação nas forças armadas taiwanesas. Esse período, muitas vezes, é ridicularizado a ponto de ser comparado a um “acampamento de verão”.

A dinâmica inclui cerca de cinco semanas de treinamento básico, permitindo aos participantes deduzir o tempo se tiverem feito aulas de treinamento na escola ou faculdade. Ao final da preparação, os jovens se tornam reservistas.

Porém, o recrutamento é tido como insuficiente nos principais setores da linha de frente, e a capacitação dos reservistas preocupa. Ou seja: mesmo com significativas compras de armas e aumentos nos orçamentos militares, há problemas de recursos humanos nas forças armadas de Taiwan.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos ainda mais dramáticos após a visita à ilha de Nancy Pelosi, a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unido, primeiro ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos. A atitude mexeu com os brio de Beijing, que então realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.

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