Taiwan passa a questionar sua dependência dos EUA após mudança de postura de Trump

Governo taiwanês amplia o investimento em defesa e tenta mostrar ao aliado que a parceria também beneficia os norte-americanos

A postura do presidente dos EUA, Donald Trump, que coloca em dúvida os esforços ocidentais de punir a Rússia e culpa a Ucrânia pela guerra, reacende preocupações em Taiwan sobre o apoio americano frente às ameaças da China. A situação vem levando a ilha a reexaminar as relações com Washington, destacando a incerteza sobre o apoio contínuo em tempos de conflito. As informações são do jornal The New York Times.

Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, Taiwan fortaleceu sua posição ao lado dos EUA, mostrando solidariedade ao país invadido como duas democracias sob ameaça de vizinhos autoritários. No entanto, a mudança abrupta na posição norte-americana sobre a guerra gera dúvidas sobre a confiabilidade da aliança Taipé-Washington.

“Com a mudança aparentemente abrupta na posição dos EUA sobre a guerra na Ucrânia, isso pode ter o efeito de fazer com que alguns em Taiwan questionem se os Estados Unidos conseguiriam puxar o tapete debaixo deles”, afirma Russell Hsiao, diretor do Global Taiwan Institute.

Lai Ching-te, presidente de Taiwan, agosto de 2024 (Foto: Flickr/governo de Taiwan)

Taiwan enfrenta a possibilidade de uma invasão há décadas, com a China intensificando suas atividades militares perto da ilha. A capacidade de dissuadir um potencial ataque depende significativamente do suporte dos Estados Unidos, mas os comentários recentes de Trump sobre a Ucrânia alimentam um sentimento público de possível abandono pelo aliado poderoso.

Apesar dessas dúvidas, o governo taiwanês mantém uma postura otimista sobre suas relações com Washington. Na semana passada, em um fórum de segurança em Taipé, o presidente Lai Ching-te e outras autoridades evitaram críticas diretas a Trump e reforçaram o papel de Taiwan no enfrentamento a governos autoritários.

Reforço militar

Precavida, entretanto, a ilha se movimenta militarmente para tentar minimizar o risco. Lai anunciou um aumento no orçamento de defesa para pelo menos 3% do PIB (produto interno bruto), destacando a importância das instalações de fabricação de semicondutores taiwanesas e as propostas de expansão dessas fábricas nos EUA. Essas medidas buscam garantir a atenção de Trump e demonstrar a disposição de Taiwan em fortalecer suas capacidades de defesa e contribuir para a segurança global.

Joseph Wu, secretário-geral do Conselho Nacional de Segurança de Taiwan e ex-ministro das Relações Exteriores, igualmente ressaltou que Taiwan deve fortalecer seu próprio militar, enfatizando que o destino da ilha está nas mãos de seus líderes.

De acordo com Hsiao, porém, não basta investir. É preciso mostrar ao novo ocupante da Casa Branca que Taiwan tem algo a oferecer. “De compras adicionais de armas e importações de energia a fábricas de semicondutores nos Estados Unidos, a administração Lai terá que chegar a uma mistura ótima que possa chamar a atenção do presidente Trump”, disse o analista. “O tempo é realmente essencial para Taipé.”

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

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