Taiwan realiza treino anual de evacuação em meio a tensão crescente com a China

Sirenes soaram em todo o território, com veículos retirados das ruas e pedestres direcionados a abrigos antiaéreos

As ruas de Taiwan ficaram vazias nesta segunda-feira (24), conforme foi realizado em todo o território o treinamento anual de evacuação. A manobra, que visa a preparar a população para uma possível invasão chinesa, ocorre em meio à tensão crescente com Beijing, que dias antes enviou novamente dezenas de jatos ao espaço aéreo da ilha.

Conforme soaram as sirenes do treinamento nesta segunda, veículos deixaram as ruas de várias cidades de Taiwan, e pedestres foram direcionados a locais seguros ou abrigos antiaéreos, segundo a agência Reuters. Mensagens de texto também foram enviadas aos celulares dos taiwaneses para avisar sobre o procedimento.

Integrantes da força aérea de Taiwan (Foto: facebook.com/cafhq)

“Durante o exercício, o alerta de exercícios de defesa aérea será transmitido, e mensagens de texto de alerta nacional serão enviadas. Quando receber mensagens de texto, por favor reconheça as palavras ‘teste’ e ‘exercício’ e fique calmo”, disse a presidente Tsai Ing-wen em um lembrete ao público publicado no Facebook cerca de uma hora antes do treinamento.

De acordo com o jornal Taiwan News, o treinamento deste ano, o 46º da história, foi mais amplo que os anteriores, abrangendo ainda mais áreas, e se estenderá até quinta-feira (27). O procedimento ocorre em etapas diferentes, tomando como base uma divisão regional em quatro blocos: Norte, Sul, Leste e Central, cada qual fazendo as manobras em um dia diferente.

Em meio ao procedimento, os cidadãos foram orientados a fechar os olhos e a boca, tapando o ouvido com as mãos. Trata-se de um procedimento preventivo para amenizar o impacto das ondas de choque causadas por eventuais ataques com mísseis.

Incursão aérea chinesa

No sábado (22), o Ministério da Defesa de Taiwan informou que novamente foram detectados dezenas de jatos chineses em seu espaço aéreo, uma situação que já se tornou corriqueira. Entre caças J-10 e J-16 e bombardeiros H-6, a China enviou 37 aeronaves, segundo a rede Deutsche Welle (DW).

Taipé informou que 22 aeronaves passaram pela zona de identificação de defesa taiwanesa e cruzaram a linha média do Estreito de Taiwan, que determina a fronteira não oficial entre Taiwan e China.

As manobras dos jatos chineses ocorrem cerca de um mês após a última movimentação semelhante. No dia 24 de junho, o Exército de Libertação Popular (ELP) havia enviado 27 aeronaves militares, além de um helicóptero de guerra anti-submarino Z-9.

Naquela ocasião, oito das 27 aeronaves ultrapassaram a linha de 24 milhas náuticas da costa taiwanesa, aproximando-se perigosamente do território. Essa situação havia ocorrido pela última vez em 2022, quando oito aeronaves de combate do ELP fizeram uma abordagem semelhante.

As forças armadas de Taiwan têm dito repetidamente que não realizarão ataques em caso de incursões chineses, de forma a evitar uma escalada. Em junho, porém, afirmaram que isso não significa que não defenderão seu território contra eventuais atividades hostis.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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