O Twitter tem um agente chinês trabalhando na coleta de informações para o Partido Comunista Chinês (PCC), segundo afirmou o ex-chefe de segurança da empresa e hoje consultor independente Peiter Zatko, em depoimento ao Comitê Judiciário do Senado dos EUA. As informações são da rede Radio Free Asia.
O FBI, a polícia federal norte-americana, entrou em contato com a plataforma para informar que um agente do Ministério de Segurança do Estado da China, o serviço secreto local, estava na folha de pagamento.
Na visão de ativistas pelos direitos humanos na China que militam no exterior, a infiltração é parte da uma operação de influência global de Beijing.
(Foto: Unsplash/Akshar Dave)
Zatko disse que a “segurança frouxa” da empresa levantou preocupações de que dados pessoais de usuários chineses estariam sendo coletados por autoridades em Beijing.
“Os agentes estrangeiros não querem apenas acesso aos dados do usuário. Eles também podem querer saber os planos do Twitter, como censurar informações em um governo ou ceder a um pedido do governo”, detalhou ele ao comitê.
Wang Longmeng, um analista político radicado na França, disse que não é de hoje que o PCC mira em plataformas de mídia social ocidentais para articular suas campanhas de influência no exterior. Segundo ele, alguns dos executivos regionais da empresa têm relação próxima à sigla comunista, incluindo Kathy Chen, ex-diretora-gerente da rede social para a China continental.
Em 2016, durante o breve período em que atuou no Twitter, Kathy levantou desconfianças por conta de sua associação ao governo chinês. Isso porque a executiva trabalhou durante sete anos como engenheira de software fazendo pesquisas sobre defesa de mísseis no ELP (Exército de Libertação Popular), além de ter sido CEO de uma joint venture do Ministério da Segurança Pública da China ligada à segurança.
“Não é surpreendente que o denunciante tenha revelado que há agentes chineses no Twitter, porque houve suspensões e contas excluídas, e, ainda assim, o Twitter permite que diplomatas do PCC espalhem rumores e mentiras”, disse Longmeng.
O Twitter é bloqueado na China, porém, a exemplo do que acontece com Facebook e outras empresas, a plataforma atende a anunciantes no país que querem alcançar uma audiência global. Kathy era justamente a responsável por coordenar tal tarefa.
O ativista de direitos Zhou Fengsuo, ex-líder estudantil nos protestos da Praça da Paz Celestial em 1989, disse que Washington não teve uma resposta adequada ao problema.
“[O governo] ignora seletivamente esse enorme problema de empresas de alta tecnologia que conspiram com o PCC porque querem fazer negócios na China”. E acrescentou: “Tenho pedido ao governo dos EUA que investigue todas as empresas de alta tecnologia”, disse ele.
Por meio de um porta-voz, o Twitter rejeitou as alegações de Zatko, sustentando que o processo de contratação era “independente de influência estrangeira e que o acesso a dados pessoais estava sujeito a controles rigorosos”. A empresa ainda classificou as falas do ex-funcionário como “cheias de inconsistências e imprecisões”.