Inteligência britânica destaca influência global chinesa e vê Beijing como ‘ameaça’

"Uma grande parte da segurança e prosperidade do Reino Unido está cada vez mais ligada às ações e políticas da China", diz chefe do MI6

Beijing é a prioridade número um do governo britânico no que tange a inteligência e segurança nacional. É o que diz um comunicado publicado na terça-feira (30) por Richard Moore, chefe da agência SIS (Serviço Secreto de Inteligência, da sigla em inglês), o popular MI6. O ex-diplomata classifica a China como um “Estado autoritário” e destaca a capacidade de os chineses influenciarem decisões políticas em todo o mundo, bem como de silenciarem seus opositores mesmo fora das fronteiras chinesas.

Rússia, China e Irã, por exemplo, há muito tempo são três do que eu poderia chamar informalmente de ‘4 grandes’ prioridades dentro da comunidade de inteligência; o quarto é a ameaça do terrorismo internacional”, diz Moore, também conhecido como “C”, antes de deixar claro qual dos quatro importa mais: “A adaptação a um mundo afetado pela ascensão da China é a maior prioridade para o MI6”. E reforça: “Uma grande parte da segurança e prosperidade do Reino Unido está cada vez mais ligada às ações e políticas da China”.

Segundo Moore, a geopolítica global está em transformação devido à disposição de a China afirmar seu poder globalmente. Por um lado, diz ele, há áreas em que a colaboração com Beijing é necessária, como “comércio e investimento, vínculos culturais e os desafios transnacionais da mudança climática e da biodiversidade”. Por outro, é primordial aprender a lidar com as “ameaças que vemos emanando do Estado chinês”.

Richard Moore, chefe da agência SIS (Serviço Secreto de Inteligência, da sigla em inglês), o popular MI6 (Foto: reprodução/Twitter)

O chefe da inteligência britânica classifica os serviços de inteligência chineses como “altamente capazes” e diz que eles têm atuado para espionar governos, a indústria e pesquisas de interesse particular de Beijing. “Eles também monitoram e tentam exercer influência indevida sobre a diáspora chinesa“, afirma Moore.

A principal arma da China para influenciar o Ocidente, na visão do britânico, é a tecnologia, usada tanto para desenvolver campanhas de desinformação quanto para acessar dados secretos. “Oficiais de inteligência chineses procuram explorar a natureza aberta de nossa sociedade, inclusive por meio do uso de plataformas de mídia social para facilitar suas operações. Estamos preocupados com a tentativa do governo chinês de distorcer o discurso público e a tomada de decisões políticas em todo o mundo”.

E a hegemonia chinesa no setor digital pode se tornar um problema caso o Ocidente não acompanhe o avanço tecnológico “De acordo com algumas avaliações, podemos experimentar mais progresso tecnológico nos próximos dez anos do que no século passado, com um impacto disruptivo igual ao da revolução industrial. Como sociedade, ainda precisamos internalizar totalmente esse fato gritante e seu impacto potencial na geopolítica global”.

É justamente a tecnologia que permite a Beijing espalhar sua influência, através de acordos comerciais de empresas chinesas com governos estrangeiros igualmente repressores. “É preocupante que essas tecnologias de controle e vigilância sejam cada vez mais exportadas para outros governos pela China, expandindo a teia de controle autoritário em todo o planeta”, diz Moore. “Precisamos ser capazes de operar sem ser detectados como uma agência de inteligência secreta em toda a rede mundial de vigilância”.

No entanto, o chefe da inteligência britânica não considera a China infalível. Muito pelo contrário. E diz que o discurso nacionalista de Xi Jinping é seu maior ponto fraco. “Beijing acredita em sua própria propaganda sobre as fragilidades ocidentais e subestima a determinação de Washington. O risco de erro de cálculo chinês por excesso de confiança é real”.

Tags: