Fugindo da vacina, alemães migram para o Paraguai para driblar medidas sanitárias

Mais de mil imigrantes da Alemanha buscaram um "exílio sanitário" no país, fugindo das restrições impostas na Europa àqueles que não se vacinaram

A não obrigatoriedade de vacinação contra o coronavírus no Paraguai está aumentando a comunidade alemã no país. Desde 2020, mais de mil imigrantes da Alemanha buscaram uma espécie de autoexílio sanitário em solo paraguaio, de modo a fugirem da aplicação de imunizantes e das limitações sociais impostas na Europa aos que rejeitam as doses. Uma reportagem feita pelo canal alemão DW (Deutsche Welle) e repercutida pelo jornal ABC Color, de Assunção, mostra a nova realidade desses expatriados tidos por parte de seus conterrâneos como “negacionistas”.

À medida em que o Ministério da Saúde no país da América Latina tem estimulado a população a buscar a terceira dose da vacina, com as infecções por Covid-19 caindo e 74 novas infecções relatadas em média a cada dia, cidadãos alemães continuam a chegar. A escolha se baseia em algo que vai na contramão das recomendações das autoridades epidemiológicas do mundo: eles são contrários à imunização.

O título da reportagem da tevê alemã é sugestivo: ‘Negacionistas fogem da Alemanha e se estabelecem no Paraguai’. A equipe de jornalistas conversou com três famílias radicadas na cidade de Hohenau, situada no departamento de Itapúa, uma terra cercada de lavouras e córregos e que foi fundada em 1900 por antepassados colonos também vindos da nação da Europa Central. Eles alegam que foram atraídos pela vida no campo, as terras férteis e pela vontade de permanecer mais tempo juntos, mas também para se livrar das severas restrições estabelecidas durante a pandemia e o agravamento da situação, que traz incertezas diante da descoberta da variante Ômicron.

Família Kroon deixou a Alemanha para levar “uma vida mais saudável” e longe das agulhas dos imunizantes (Foto: DW Español/Captura de tela)

“Queremos ser saudáveis ​​por muito mais tempo e aqui temos mais tempo para nós. Viver em liberdade, esse é o plano”, declarou um integrante de uma das famílias.

Segundo dados da Diretoria de Migração do Paraguai, 1.077 alemães se estabeleceram no país no ano passado, número que fez da Alemanha a nação europeia com a maior quantidade de imigrantes em solo paraguaio e a terceira maior comunidade na América do Sul, só atrás de Brasil e Argentina.

A reportagem aponta que o Paraguai é visto como um refúgio contra a vacinação e a pandemia, principalmente pelos mais religiosos. A maioria dessa população acredita que a Covid-19 foi criada em um laboratório na China com financiamento do Ocidente.

Um dos entrevistados deu justificativas que se assemelham às de um refugiado de um país em conflito por conta de um regime autoritário. “Resolvi vir porque o coronavírus está estreitando tudo, complicando tudo. Cada vez mais pessoas precisam fugir da Alemanha, Áustria e Suíça porque perdem seus empregos. Em breve eles nem vão poder sair para fazer compras e já estão anunciando a vacina obrigatória”, disse outro imigrante.

Por que isso importa?

As principais razões para o avanço da doença na Europa são o afrouxamento da obrigatoriedade do uso de máscara em lugares públicos e o alto número de pessoas não vacinadas, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde).

Mais de um bilhão de doses de vacinas contra a Covid-19 foram administradas na Europa, com a cobertura vacinal chegando a 53,5%. No entanto, a OMS afirma que ainda há muitas diferenças entre os países, já que algumas nações imunizaram menos de 10%, enquanto outras superam a marca de 80% da população total.

Segundo o órgão, o fim da pandemia está distante, e a Europa precisa reforçar as regras restritivas de distanciamento social e uso de máscaras, além da vacinação. Caso contrário, os países europeus podem atingir a marca de mais de 2 milhões de mortos em virtude do coronavírus até março de 2022.

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