O ex-cientista do governo chinês George Gao declarou, em uma entrevista à rede BBC News, que a possibilidade de o coronavírus ter vazado de um laboratório não deve ser descartada. No período em que foi diretor do Centro de Controle de Doenças (CDC) da China, ele desempenhou um papel importante na resposta à pandemia e nos esforços para elucidar a origem do vírus que matou quase sete milhões de pessoas em todo o mundo.
Enquanto o governo chinês rechaça a ideia de que a doença possa ter se originado em um laboratório em Wuhan, o professor Gao adota uma postura mais aberta. Durante uma entrevista para o podcast Fever: The Hunt for Covid’s Origin (Febre: A caça à origem da Covid, em tradução literal), da BBC Radio 4, ele afirmou: “Você sempre pode suspeitar de qualquer coisa. Isso é ciência. Não descarte nada.”
Renomado virologista e imunologista, Gao, que atualmente ocupa o cargo de vice-presidente da Fundação Nacional de Ciências Naturais da China após sua aposentadoria do CDC, revelou que foi realizada uma investigação formal no Instituto de Virologia de Wuhan (WIV, da sigla em inglês).
Essa declaração sugere que o governo chinês pode estar levando a possibilidade de um vazamento de laboratório mais a sério do que suas declarações oficiais indicam. “O governo organizou alguma coisa”, diz ele, acrescentando que o processo não envolveu o CDC.
Os entrevistadores perguntaram ao cientista se isso significava que outro setor do governo realizou uma investigação oficial no WIV, um dos principais laboratórios da China, que se dedicou ao estudo de coronavírus por muitos anos.
O professor Gao respondeu afirmando que sim, o laboratório foi verificado duas vezes por especialistas da área. Essa é a primeira confirmação de que alguma forma de investigação oficial ocorreu. No entanto, o professor Gao não viu pessoalmente os resultados, mas ouviu dizer que o laboratório recebeu uma certificação de segurança.
“Acho que a conclusão deles é a de que estão seguindo todos os protocolos. Eles não encontraram [nenhuma] irregularidade”, declarou o cientista.
Vazamento “improvável”
Em fevereiro de 2021, a OMS (Organização Mundial da Saúde) descartou qualquer possibilidade de a Covid-19 ter sido criada ou vazada de um laboratório. “Extremamente improvável”, disse a entidade.
Conforme o líder da equipe de pesquisadores da China, Wannian Liang, é provável que o vírus tenha tido duas fases de desenvolvimento. A primeira aponta a circulação viral entre hospedeiros animais. A segunda fase envolve a evolução do vírus entre os humanos.
Em março, Christopher Wray, diretor do FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, disse que um vazamento de um laboratório na cidade de Wuhan, na China, provavelmente originou a pandemia de Covid-19. Beijing rebateu a alegação, dizendo não existir “nenhuma credibilidade” nela.
“O FBI há algum tempo avalia que as origens da pandemia são provavelmente um possível incidente de laboratório”, disse Wray em entrevista à rede Fox News.
Esta foi a primeira declaração pública da investigação confidencial do FBI sobre o avanço do coronavírus pelo mundo. A Casa Branca disse que não há uma concordância no governo dos EUA sobre as origens. Quatro agências governamentais, juntamente com um painel nacional de inteligência, sustentam que a pandemia possivelmente surgiu de uma transmissão natural. Outras duas estão indecisas.
O primeiro surto da doença foi ligado ao Huanan, um mercado de frutos do mar e vida selvagem em Wuhan, onde animais são mantidos vivos, criando um potencial cenário de transmissão do vírus para seres humanos.