Rússia emite mandado de prisão contra jornalista que denunciou envenenamento

Roman Dobrokhotov, editor-chefe do site investigativo The Insider, foi denunciado por cruzar a fronteira com a Ucrânia ilegalmente

Roman Dobrokhotov, editor-chefe do site investigativo The Insider, designado como “agente estrangeiro” por ter denunciado o envenenamento do político da oposição Alexei Navalny, enfrenta nova acusação da Justiça russa. Nesta quinta-feira (30), ele foi denunciado por cruzar a fronteira ilegalmente e, agora, figura em uma lista de procurados da FSB (Agência Nacional de Segurança, da sigla em inglês), informou o jornal britânico The Guardian.

De acordo com a FSB, Dobrokhotov teria atravessado a fronteira da Rússia com a Ucrânia rumo à região de Luhansk, em agosto, “secretamente e a pé, contornando os postos de controle estabelecidos”. O território é controlado por separatistas apoiados pelo Kremlin.

Diante da violação, a agência de inteligência comunicou que pretendia incluir o jornalista em uma lista de procurados com o “objetivo de prendê-lo e processá-lo”. Se condenado, a pena máxima pode chegar a dois anos de prisão.

Roman Dobrokhotov, editor-chefe do The Insider, após batida policial na sua casa que resultou em prisão (Foto: The Insider/Reprodução YouTube)

Na quinta de manhã, foram realizadas buscas no apartamento de Dobrokhotov e na casa de seus pais, disse a advogada do jornalista ao Insider. Ele teve telefones, computadores e outros dispositivos apreendidos.

Dobrokhotov confirmou a diligência e a investigação criminal no Twitter. “As buscas são realizadas no âmbito do artigo sobre ‘passagem ilegal de fronteira'”, escreveu em sua conta oficial.

Segundo o The Insider, o pai e a esposa de Dobrokhotov foram conduzidos para um interrogatório. O veículo também confirmou que o jornalista deixou a Rússia, sem revelar seu paradeiro ou como ele chegou, alegando “razões de segurança” e dizendo que ele está “sempre em movimento”.

Não é a primeira vez que a polícia realiza uma ação de busca contra o jornalista. Em agosto, outra batida confiscou celulares, laptop, tablets e o passaporte de Dobrokhotov, o que o impediu de viajar ao exterior no dia da ocorrência. Os itens não foram devolvidos.

Por que isso importa?

Em julho, após a publicação de reportagens desfavoráveis ao presidente Vladimir Putin, a Rússia declarou o The Insider e cinco jornalistas do veículo como “agentes estrangeiros”. A medida seria um ato de vingança contra a mídia independente por ajudar a revelar o papel do Kremlin nos envenenamentos de Salisbury e em outras tentativas de assassinato da FSB.

A designação de “agente estrangeiro” carrega conotações negativas da era soviética e serve para rotular o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior. A classificação acaba por afastar potenciais parceiros e anunciantes e muitas vezes sufoca financeiramente os veículos, obrigados ainda a fornecer ao governo relatórios detalhados sobre suas finanças e atividades.

Jornalistas independentes ou representantes de veículos de mídia que tenham se esquivado das exigências três vezes após terem o nome incluído na lista podem pegar pena de até dois anos de prisão, de acordo com o código penal russo.

Em setembro, às vésperas das eleições parlamentares, Dobrokhotov acusou o Kremlin de “destruir a mídia” no país. Jornalistas e veículos de imprensa críticos ao governo são alvo de uma perseguição que tem o respaldo da Justiça do país. 

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