Austrália acusa China de ‘intimidação’ por apontar laser contra avião de vigilância

"Perigoso, não profissional e imprudente”. Assim a Defesa australiana classificou o incidente envolvendo Beijing

O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, acusou na segunda-feira (21) a China de apontar um laser contra um de seus aviões de vigilância durante um voo nas águas da costa norte do país, episódio que classificou como um “ato de intimidação”. O incidente, que agrava as já desgastadas relações entre os países, ocorreu na semana passada. As informações são da agência Reuters.

A aeronave de patrulha marítima P-8A Poseidon sobrevoava o norte da Austrália na quinta-feira (17) quando foi iluminada por um laser disparado de um navio de guerra da Marinha do Exército de Libertação Popular (ELP). A atitude, de acordo com o Departamento de Defesa, teria sido um gesto “perigoso, não profissional e imprudente”, que colocou vidas “potencialmente em perigo”.

O premiê disse que Camberra irá cobrar respostas de Beijing. “Não vejo [o incidente] de outra forma senão um ato de intimidação. Não provocado, injustificado”, disse Morrison. “E a Austrália nunca aceitará tais atitudes”.

Navio de guerra da Marinha do Exército de Libertação Popular (Foto: Defense Visual Information Distribution Service/Divulgação)

Já o ministro da Defesa Peter Dutton referiu-se ao incidente à rede Sky News Television como “um ato muito agressivo de intimidação”, ocorrido dentro da zona econômica exclusiva da Austrália, no Mar de Arafura.

O Ministério da Defesa Nacional da China, em comunicado emitido na segunda-feira (21) e repercutido pelo jornal britânico The Guardian, deu sua versão sobre os fatos, mas não trouxe explicações detalhadas sobre as alegações australianas quanto ao uso do laser.

A nota oficial relatou que a embarcação chinesa “mantinha operações seguras, normativas e profissionais” e acusou o lado australiano de espalhar “informações falsas” e fazer uma “reivindicação irresponsável”.

O órgão governamental chinês, por meio de seu porta-voz, também alegou que o avião australiano teria chegado “muito próximo” do navio do ELP, bem como lançou uma boia de sonar na água ao redor da embarcação.

Ministério da Defesa Nacional da China divulgou imagem da aeronave de vigilância australiana P-8A Poseidon (Foto: www.mod.gov.cn/Divulgação)

O dispositivo – também conhecido como sonoboia – também tem utilidade na coleta de informações acústicas, ajudando a detectar submarinos. Uma imagem divulgada pelo Ministério da Defesa Nacional da China mostra uma boia laranja triangular na água, relata a reportagem.

A Defesa australiana rebateu as acusações de Beijing nesta terça-feira (22), alegando que as atividades de vigilância foram conduzidas “de maneira disciplinada e segura” e o uso de sonoboias era “prática comum”.

“Algumas sonoboias foram usadas após o incidente, mas caíram na água a uma distância significativa à frente do navio do ELP”.

Marinha chinesa registrou as sonoboias lançadas pelo avião australiano (Foto: www.mod.gov.cn/Divulgação)

Scott Morrison ainda disse que a aeronave de vigilância australiana estava “exatamente onde era permitido estar, fazendo tudo o que era permitido e mantendo os olhos naqueles que estão entrando em nossa zona econômica exclusiva”.

Diplomatas australianos em Beijing discutiram o incidente de quinta-feira com os ministérios das Relações Exteriores e da Defesa Nacional da China. Autoridades em Camberra fizeram o mesmo com a embaixada chinesa.

Por que isso importa?

A relação cordial entre Austrália e China começou a deteriorar em 2018, quando Camberra proibiu a Huawei de fornecer equipamentos para uma rede móvel 5G, citando riscos de interferência estrangeira. E teve piora em 2020, quando a Austrália cobrou uma investigação independente sobre a origem do coronavírus em Wuhan, o que despertou a ira da China.

A resposta chinesa veio em forma de imposição de tarifas sobre produtos australianos, como vinho e cevada, além de importações limitadas de carne bovina, carvão e uvas australianas. Os Estados Unidos definiram o movimento como “coação econômica”. À época, as vendas de vinho do país ao Reino Unido cresceram quase 30% depois que a China aumentou taxas de commodities australianas. O país também chegou a “desencorajar” as fábricas de roupas do país de usarem o algodão australiano.

Um documento de 14 páginas vazado de forma deliberada pela Embaixada da China na Austrália em novembro de 2020 já apontava a grave deterioração nas relações entre os dois países. Nele, Beijing acusava o primeiro-ministro Scott Morrison de “envenenar as relações bilaterais”.

A carta ainda culpava Camberra pelos relatórios “hostis e antagônicos” sobre a China na mídia australiana independente e pelos ataques ao acordo do Cinturão da Rota da Seda no estado de Victoria, onde fica Melbourne.

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