ONG denuncia mortes de manifestantes no Irã: ‘Governo corrupto e autocrático’

Human Rights Watch identificou 47 mortes nos protestos, mas admite que o número de vítimas é provavelmente maior

“As autoridades iranianas reprimiram impiedosamente os protestos generalizados contra o governo com força excessiva e letal em todo o Irã“. A alegação é da ONG Human Rights Watch (HRW), que na quarta-feira (5) publicou um relatório sobre os recentes episódios no país, no qual classificou o regime como “corrupto e autocrático”.

Os protestos tiveram início após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não “estar usando corretamente o hijab”, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.

Canadenses protestam em Ottawa contra a repressão no Irã (Foto: Wikimedia Commons)

“A resposta brutal das autoridades iranianas aos protestos em muitas cidades indica uma ação conjunta do governo para esmagar a dissidência com cruel desrespeito à vida”, disse Tara Sepehri Far, pesquisadora sênior do Irã na HRW. “O tiroteio generalizado de manifestantes pelas forças de segurança só serve para alimentar a raiva contra um governo corrupto e autocrático.”

De acordo com a ONG, em ao menos 13 cidades do Irã foram registrados casos de uso de força excessiva ou letal pelo governo. O relatório cita vídeos divulgados na internet que registram agentes estatais usando rifles, espingardas e revólveres indiscriminadamente contra a multidão, “matando e ferindo centenas”.

Foram identificadas 47 pessoas que grupos de direitos humanos ou veículos de comunicação informaram ter morrido nos protestos. Entre elas, ao menos nove crianças e seis mulheres, sendo a maioria vítima de disparos de armas de fogo. Entretanto, a própria ONG admite que o número de mortos é provavelmente maior devido à subnotificação.

Bom base da análise de imagens de vídeo e fotos, a HRW alega que a maioria dos manifestantes agia de forma pacífica. Mas, em determinados casos, alguns deles atiraram pedras e outros objetos e agrediram os agentes estatais. Ainda assim, afirma que “o uso da violência pelos manifestantes não justifica o uso excessivo da força pelas forças de segurança”.

Além dos mortos e feridos, a ONG destaca os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. E cita também o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

“As paralisações da Internet violam vários direitos, incluindo os direitos à liberdade de expressão e acesso à informação, e os direitos de reunião e associação pacíficas”, diz a HRW.

De acordo com Sepehri Far, a manifestação atual está inserida em um cenário mais amplo que o da morte da jovem. “As pessoas no Irã estão protestando porque não veem a morte de Mahsa (Jina) Amini e a repressão das autoridades como um evento isolado, mas sim o mais recente exemplo da repressão sistemática do governo contra seu próprio povo”, afirmou.

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