Relatório expõe sofrimento de civis e violações cometidas pela Rússia na Ucrânia

Autoridades russas são acusadas de tratamento degradante, bloqueio a monitores da ONU e falta de ação para devolução de crianças deportadas

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Seis civis mortos e 20 feridos por dia. Essa é a média de afetados pela guerra na Ucrânia nos últimos seis meses, segundo a Missão de Monitoramento dos Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) na Ucrânia.

Um relatório divulgado na quarta-feira (4) revela que ataques com mísseis contra áreas residenciais e infraestruturas vitais, bem como instalações agrícolas e de grãos, muitas vezes localizadas longe das áreas da linha de frente, continuam a semear o medo e a destruição em toda a Ucrânia.

A missão afirma que civis em áreas ocupadas pela Rússia enfrentam tortura, maus-tratos, violência sexual e detenção arbitrária. Centenas permanecem presos, com suas famílias sem saber de seu destino.

A chefe do grupo de monitoramento, Danielle Bell, disse que “a guerra causou estragos na vida de milhões de ucranianos, incluindo crianças que terão que viver por muitos anos com um legado horrível de perda humana, destruição física, danos ambientais, particularmente a contaminação por resíduos explosivos de guerra.”

O conflito também fez com que milhões de civis ucranianos caíssem abaixo da linha da pobreza. Essa situação foi exacerbada por amplos danos econômicos e sociais causados por ataques a infraestruturas vitais e instalações agrícolas.

Um exemplo disso foi a destruição da barragem de Kakhovka no início deste ano. O ato provocou grandes inundações e causou um desastre ambiental que terá efeitos a longo prazo sobre os direitos e o bem-estar das pessoas que vivem na área.

Jovem ucraniano de 14 anos em abrigo pertencente a um bloco de apartamentos em Lyman, Ucrânia, março de 2023 (Foto: Aleksey Filippov/Unicef)
Tratamento degradante

O relatório da ONU reforça a documentação de tortura generalizada e maus-tratos contra civis e prisioneiros de guerra pelas autoridades russas, incluindo espancamentos graves, eletrocussão, execuções simuladas, violência sexual e tratamento degradante.

Segundo o documento, as condições de detenção incluem falta de alimentos e serviços médicos, superlotação, condições precárias de vida e saneamento, privação de sono e nenhum acesso ao mundo exterior. 

Até o momento, a Rússia se recusou a permitir qualquer acesso aos monitores de direitos humanos da ONU.

Em contraste, o relatório observa que a Ucrânia continua a conceder aos monitores de direitos humanos acesso irrestrito a prisioneiros de guerra detidos. Além disso, a missão ressaltou que as condições no complexo prisional perto da cidade de Lviv, no oeste do país, melhoraram.

Troca de nacionalidade forçada

Nas áreas ocupadas, o relatório forneceu exemplos de que a Rússia introduziu seus próprios sistemas administrativos e educacionais. 

A missão afirma que os civis em território ocupado pela Rússia sofrem pressão para aceitar a cidadania russa, com as autoridades ocupantes fazendo o acesso a cuidados de saúde, pensões e outros benefícios básicos depender da aceitação da nacionalidade russa. 

Segundo o levantamento, os residentes do sexo masculino das áreas ocupadas enfrentaram intimidação, em um esforço para coagi-los a se juntar às forças armadas russas.

O relatório levantou preocupações sobre o destino de crianças ucranianas, que foram transferidas de seus locais regulares de residência para outros locais dentro das áreas ocupadas pela Rússia ou deportadas para o país.

Os especialistas observam que as autoridades russas até agora não conseguiram identificar as crianças e reuni-las com suas famílias e pedem o retorno de todos os deportados e transferidos, incluindo crianças e pessoas com deficiência.

O relatório, em inglês, está disponível aqui.

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