O governo da Ucrânia divulgou na quarta-feira (21) uma estimativa do prejuízo causado pelo rompimento da barragem de Kakhovka, na região ucraniana de Kherson, no dia 6 de junho. De acordo com Kiev, somente os danos ambientais foram calculados em US$ 1,5 bilhão. As informações são do jornal independente The Moscow Times.
O primeiro-ministro ucraniano Denys Shmyhal fez o anúncio dos valores durante a Conferência de Recuperação da Ucrânia, em Londres, afirmando que a conta para reparar o país devastado pela guerra não para de crescer. “Todos os dias a Rússia inflige novas perdas à Ucrânia”, afirmou ele.
De acordo com Shmyhal, o prejuízo ambiental bilionário sequer leva em conta “as perdas na agricultura, de infraestrutura e habitação e o custo de reconstrução da própria usina”.
Ele citou ainda dados divulgados pelo Banco Mundial em março que, na ocasião, calculavam em US$ 411 bilhões o custo total da reconstrução da Ucrânia. O primeiro-ministro observou que esse valor “vai crescer, especialmente depois que os russos explodiram a usina hidrelétrica de Kakhovka.”
No evento de Londres, que contou com a participação de representantes de mais de 60 nações, vários presentes prometeram grandes somas para apoiar Kiev, segundo relato da agência Associated Press (AP).
A União Europeia (UE) puxou a fila com um apoio previsto de 50 bilhões de euros até 2027, enquanto os EUA anunciaram um pacote de ajuda imediato de US$ 1,3 bilhão, além de mais US$ 500 milhões voltados à reconstrução da rede energética danificada pelos ataques russos. O Reino Unido prometeu 240 milhões de libras em ajuda e 3 bilhões de libras em garantias de empréstimos do Banco Mundial, enquanto a Alemanha anunciou 381 milhões de euros em ajuda humanitária.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, porém, foi cético ao comentar tais valores. “Devemos passar da visão aos acordos e dos acordos aos projetos reais”, disse ele em mensagem de vídeo exibida durante a Conferência.
Shmyhal, por sua vez, projetou que somente nos próximos 12 meses seu país receba US$ 7 bilhões para investir na reconstrução, que ele classificou como o maior projeto do gênero na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. “O principal objetivo é mobilizar recursos para financiar uma recuperação rápida”, disse ele, segundo a rede Radio Free Europe (RFE).
O rompimento da barragem
A barragem Kakhovka, que possui 30 metros de altura e 3,2 quilômetros de comprimento, faz parte de uma usina hidrelétrica e retém um grande reservatório no rio Dnipro. Desde a invasão russa, em fevereiro de 2022, a represa vinha sido fonte constante de tensão.
O colapso da barragem, no dia 6 de junho, levou a uma troca de acusações entre os governos russo e ucraniano, que se eximem de responsabilidade pelo ocorrido e culpam o outro lado. Já a inundação que resultou do rompimento gerou consequências ambientais e sociais. Casas e empresas foram inundadas à medida que a água fluía rio abaixo, levando à evacuação de milhares de habitantes de áreas afetadas.
Três dias depois do colapso, a agência Reuters afirmou haver evidências cada vez maiores de que uma explosão provocou o desastre. Tal alegação baseia-se em relatórios dos serviços de inteligência da Ucrânia e dos EUA e de dados sísmicos coletados pela Noruega.
Mais tarde, no dia 16, foi anunciado o resultado de uma investigação preliminar conduzida pela fundação de direitos humanos Global Rights Compliance, cujos representantes estiveram na Ucrânia a convite de promotores ucranianos. Eles concluíram que é “altamente provável” que explosivos plantados pela Rússia tenham causado a tragédia.
Em outubro do ano passado, Zelensky alertou que a Rússia planejava explodir a barragem e projetou um “desastre de grande escala”. Ele acusou Moscou de plantar minas em Kakhovka com o objetivo de posteriormente responsabilizar Kiev pelas mortes e pelo desastre ecológico proveniente da inundação.