Três comandantes do Taleban do Paquistão morrem em explosão no Afeganistão

Um dos mortos foi identificado como sendo Abdul Wali, um dos líderes mais influentes e implacáveis ​​do grupo extremista

A explosão de uma bomba posicionada em uma rodovia matou três comandantes do Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão. O incidente aconteceu no distrito de Birmal, no Afeganistão, na noite de domingo (7), horário local, de acordo com a rede Gandhara.

Um dos mortos foi identificado como sendo Abdul Wali, também conhecido pelo pseudônimo Omar Khalid Khorasani, tido como um dos líderes mais influentes e implacáveis ​​do TTP. As outras duas vítimas seriam Hafiz Dawlat e Mufti Hassan.

Hassan havia se tornado uma figura polêmica no TTP, acusado por outros membros de incitar disputas internas na organização. No passado recente, ele jurou lealdade a Abu Bakr al-Baghdadi, ex-líder do Estado Islâmico (EI) morto pelos EUA em 2019. Já Dawlat era um dos principais aliados de Khorasani.

O mais recente incidente ocorre em meio às negociações entre o TTP e o governo do Paquistão de um novo cessar fogo, para ampliar o que está em vigor há dois meses.

Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão (Foto: Twitter)
Mortes anteriores

As mortes violentas de figuras proeminentes do TTP não são novidade. Somente neste ano já haviam sido relatados dois episódios semelhantes ao deste domingo. No dia 22 de março, Abdul Wahab Lark foi morto a tiros por dois homens desconhecidos, também em território afegão.

Conhecido pelos pseudônimos Hakeem Ali Jan, Hakeem Saleh, Khushi Muhammad ou Gypsy Kandahar, Lark era acusado de comandar diversos ataques terroristas em território paquistanês, sobretudo na província de Sinde. Antes de se unir ao TTP, ele era membro da organização curda Lashkar-e-Jhangvi Usman Saifullah.

Entre os ataques atribuídos a Lark estão um que matou 53 pessoas e feriu outras 57 no dia 30 de janeiro de 2015 em um evento religioso xiita. Também são atribuídos a ele diversos atentados contra as forças de segurança paquistanesas.

Antes, em janeiro deste ano, outro terrorista ligado ao TTP foi morto no Afeganistão. Trata-se de Khalid Balti, também conhecido como Muhammad Khorasani, ex-porta-voz do grupo extremista. O evento foi relatado na província de Nagarhar, região de forte atuação do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K).

Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveitou sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar negociações com o TTP, com quem chegou a firmar dois acordos de cessar-fogo.

O primeiro pacto ocorreu no ano passado, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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