Redução da presença diplomática dos EUA no exterior permite à China expandir sua influência

Para cortar despesas, Washington tem planos de fechar cerca de uma dúzia de consulados, inclusive uma posição no Brasil

O Departamento de Estado norte-americano pretende fechar pelo menos uma dúzia de consulados até o meio do ano e pode encerrar ainda mais missões diplomáticas, segundo fontes do governo americano. A medida, parte de uma redução orçamentária liderada pela administração Trump, também prevê a demissão de funcionários locais, que representam dois terços da força de trabalho do órgão. As informações são do jornal The New York Times.

As mudanças ocorrem em meio à crescente influência diplomática da China, que já superou os EUA no número de postos diplomáticos globais. Com forte presença na Ásia e na África, Beijing vem expandindo sua participação em organizações internacionais, enquanto Washington reduz suas atividades externas.

Os cortes também geram preocupação entre os serviços de inteligência. A maioria dos agentes americanos opera sob a cobertura diplomática, e o fechamento de consulados pode limitar as opções da CIA para posicionar seu pessoal. Outros setores do governo também seriam impactados, como o comércio, a segurança e a saúde.

Prédio do Departamento de Estado dos EUA (Foto: divulgação)

A redução de gastos do Departamento de Estado está sendo impulsionada por uma equipe liderada pelo bilionário Elon Musk. Para conter o que chama de desperdício governamental, o grupo vem pressionando por cortes drásticos.

Um memorando interno propõe o fechamento de consulados na Europa Ocidental, incluindo cidades como Florença, Hamburgo e Estrasburgo, além de uma unidade no Brasil. O Departamento de Estado também notificou o Congresso norte-americano sobre o encerramento do consulado em Gaziantep, na Turquia, um ponto estratégico para a gestão da crise humanitária na Síria.

Em fevereiro, o Secretário de Estado Marco Rubio enviou um comunicado aos chefes de missão ordenando que as equipes diplomáticas mantivessem apenas o pessoal essencial para implementar as prioridades da política externa do governo Trump. Ele também afirmou que cargos vagos por mais de dois anos deveriam ser eliminados.

“As mudanças não são destrutivas nem punitivas”, declarou Rubio. “Precisamos ser uma agência do século 21 que opere na velocidade da relevância.”

Os cortes afetam também a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), responsável por programas humanitários e de desenvolvimento. Desde que assumiu o cargo, Rubio permitiu que Musk e Pete Marocco, um polêmico assessor político, colocassem milhares de funcionários da entidade em licença ou demitidos, levantando dúvidas sobre seu compromisso com a diplomacia tradicional.

No Departamento de Estado, a perda de pessoal é alarmante. Cerca de 700 funcionários, incluindo 450 diplomatas de carreira, pediram demissão nos dois primeiros meses do ano. Em um curso recente para diplomatas que optaram por se aposentar, havia 160 participantes, um dos maiores números da história recente.

“O Departamento de Estado continua avaliando sua postura global para garantir que estejamos na melhor posição para enfrentar os desafios modernos em nome do povo americano”, disse a instituição em um comunicado na quinta-feira (6).

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