Considerado o pior desastre naval da Rússia moderna, a catástrofe com o submarino nuclear Kursk, que completa 20 anos nesta quarta (12), é lembrada com discrição pelo governo russo.
Lançado para exercícios navais no Mar de Barents, exstremo norte da Rússia, o submarino Kursk implodiu em 12 de agosto de 2000 após explosão de um dos seus torpedos a bordo.
A maioria dos 118 tripulantes morreu na hora. Os 23 sobreviventes, que passaram nove dias no fundo do mar em um dos compartimentos da embarcação, aguardaram um resgate que nunca chegou.

Apenas em 21 de agosto uma equipe de mergulhadores britânicos e noruegueses acessou o submarino e encontrou toda a tripulação morta.
À época, a Marinha russa demorou a reconhecer a catástrofe em público e a aceitar ajuda de outros países. Em férias no Mar Negro, o presidente russo Vladimir Putin manteve-se em silêncio. O mandatário só retornou a Moscou uma semana depois do acidente.
Putin, que teve o primeiro mandato marcado pelo afundamento do submarino, não se manifestou publicamente sobre a efeméride. O russo havia tomado posse pela primeira vez em 7 de maio daquele ano, após um período de cinco meses como presidente em exercício.

História apagada
Quase que apagada da memória do país, a tragédia será lembrada oficialmente com pequenas cerimônias em sete cidades russas, informou a estação Radio Free Europe.
Em 2015, um levantamento feito pelo instituto de pesquisa Levada Center apontou que o percentual da população que tinha má avaliação da resposta do governo, em 2000, ao acidente, havia caído pela metade.
O responsável pelo estudo Lev Gudkov, atribuiu o fenômeno ao pouco resgate da memória do acidente. Houve uma política deliberada de fazert com que as pessoas esquecessem do quer aconteceu, diz Gudkov.
“A censura na mídia estatal bloqueou informações sobre o assunto. A discussão continua apenas nas redes sociais”, afirmou.
Em 2010, no 10º aniversário da tragédia, um novo silêncio. Nem Putin, como primeiro-ministro, e nem o então presidente Dmitry Medvedev, fizeram qualquer menção ao episódio.
Segundo ele, mesmo que a discussão tenha continuado nas redes sociais, o silenciamento da TV estatal foi mais forte, já que continua sendo a principal fonte de notícias da Rússia.
À época, as emissoras russas Canal Um e NTV chegaram a comparar a má conduta do governo às tentativas de ocultamento da situação após o desastre nuclear de Chernobyl, em 1986. Hoje, essas empresas são controladas pelo governo e teriam uma postura muito menos crítica.