Novos documentos relacionados ao desastre nuclear de Chernobyl, que aconteceu em 1986 na Ucrânia, foram divulgados no último dia 22 pelo Serviço de Segurança da Ucrânia e a ONG Instituto de Memória Nacional.
Os documentos, desclassificados neste ano pelo governo ucraniano, foram publicados nesta segunda (29) em um livro intitulado “O Dossiê de Chernobyl da KGB: da construção ao acidente”.
De acordo com o material, as autoridades soviéticas encobriram ou não conseguiram responder adequadamente a vários pequenos acidentes na usina antes da explosão de abril de 1986.
O acidente, na cidade de Pripyat, matou quatro mil pessoas e tornou a região inabitável.
Os arquivos, até então confidenciais, incluem registros telefônicos e a cópia do primeiro relatório do incidente. Também há informações sobre o início de uma investigação completa do acidente pela KGB, entre outros dados.
Atuação da KGB
Entre as descobertas, está o fato de que a KGB, serviço secreto da União Soviética, foi encarregada de garantir a segurança industrial durante a construção da usina de Chernobyl, informou o portal Sputnik News.
Agentes infiltrados foram encarregados de descobrir negligências, roubo de materiais de construção, violação de regras de segurança, e não conformidades com os padrões de operação.
Desse trabalho, resultaram relatos de casos de construção e instalações de má qualidade. Em 1975, por exemplo, uma parte de armazém de resíduos radioativos estaria mal construída, causando uma ameaça ao ambiente ao redor.
A KGB descobriu ainda a entrega de tubulações de má qualidade para as instalações da usina, como a caldeira. Havia relatos de falta de materiais de construção, de peças de reposição e de qualificação adequada entre trabalhadores.
Esses fatores levaram à interrupção da instalação do primeiro reator, no início de 1976. Apenas parte dos alertas da KGB foi atendida pelas autoridades.
Situações encobertas
Entre as informações mais graves está a de que as autoridades soviéticas teriam encoberto informações de forma deliberada sobre o acidente na usina.
Entre 1971 e 1981, foram 29 situações de emergência em Chernobyl. Oito delas consideradas como de erro humano, incluindo de cálculo dos engenheiros e de negligência dos trabalhadores da construção civil.
Entre 1978 e 1979, a KGB teria enviado uma série de relatórios a Kiev sobre “violações graves deliberadas de padrões tecnológicos de construção”. Além disso, equipamentos defeituosos foram culpados por outras três emergências que causaram o desligamento temporário dos reatores.
Ainda segundo os novos documentos, as autoridades soviéticas não estariam preparadas para lidar com a escala do desastre em Chernobyl.