Aliados de Putin pedem o uso de armas nucleares em resposta a suposta tentativa de assassinato

Presidente da Duma federal russa puxou o coro e disse que é preciso "parar e destruir o regime terrorista em Kiev” após ação de drones em Moscou

O suposto atentado contra a vida do presidente russo Vladimir Putin, que Moscou atribui à Ucrânia e aos EUA, continua gerando ameaças da parte da Rússia. No final da semana passada, dois aliados domésticos do líder instaram o país a usar armas nucleares contra as forças de Kiev em retaliação. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

O político Vyacheslav Volodin, presidente da Duma, a câmara baixa da Assembleia Federal, culpou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pelo ataque. “Não pode haver negociação. Exigiremos o uso de armas que possam parar e destruir o regime terrorista em Kiev”, disse ele através do aplicativo de mensagens Telegram.

Embora não tenha usado a expressão “armas nucleares”, a mensagem de Volodin foi clara. Dmitry Rogozin, ex-chefe do programa espacial russo e hoje parlamentar e consultor militar, fez coro com o colega de Duma e deixou a posição bem mais clara.

“De acordo com nossa doutrina [nuclear], temos o direito de usar armas nucleares táticas porque é para isso que elas existem”, disse ele, classificando o arsenal russo desse tipo de armamento como “grande equalizador para os momentos em que há uma clara discrepância a favor do inimigo”. 

O Kremlin, sede do governo russo, em Moscou (Foto: Pavel Kazachkov/WikiCommons)

O episódio que levou à reação desproporcional da dupla de parlamentares ocorreu entre a noite de terça-feira (2) e a manhã de quarta (3) da semana passada. Na ocasião, Moscou alegou ter abatido dois drones que teriam sobrevoado o Kremlin supostamente com o intuito de assassinar Putin.

O episódio gerou uma troca de acusações e respingou até no governo norte-americano, acusado por alguns aliados de Putin de ter orquestrado o fracassado plano.

“Tais tentativas de negar isso tanto em Kiev quanto em Washington são, é claro, absolutamente ridículas. Sabemos muito bem que a decisão sobre tais ações e ataques terroristas não é tomada em Kiev, mas em Washington”, disse Dmitry Peskov, porta-voz da presidência, segundo a agência estatal Interfax.

Peskov fortaleceu sua teoria dizendo haver evidências que a sustentam. “É muito importante aqui que Washington entenda que sabemos disso e entenda o quão perigosa é essa participação direta no conflito”, afirmou o porta-voz de Putin. “São os dados que temos, os dados que nossos serviços especiais recebem”, acrescentou ele.

Logo após a divulgação do ocorrido, Zelensky negou envolvimento, alegando que suas tropas sofrem com a escassez de armas, o que inviabilizaria um ataque ao Kremlin mesmo que essa fosse a intenção. Já a Casa Branca classificou a acusação russa como “ridícula”, de acordo com a rede CNN.

Volodin e Rogozin não foram os únicos a reagir de forma exagerada ao episódio dos drones. O ex-presidente Dmitry Medvedev manteve o costumeiro tom fanfarrão e também ameaçou Kiev, embora não tenha citado o uso do arsenal nuclear, algo que já havia feito em ocasiões anteriores.

“Depois do ataque terrorista de hoje, não há opções além da eliminação física de Zelensky e sua camarilha”, bravateou Medvedev no Telegram, em declarações reproduzidas pela Tass.

Arsenal nuclear

As armas nucleares táticas citadas pelos aliados de Putin têm alcance reduzido, com precipitação radioativa limitada a cerca de um quilômetro. Diferente das armas nucleares estratégicas, capazes de destruir cidades inteiras, como ocorreu em Hiroshima e Nagasaki em 1945, as táticas servem para aniquilar posições estratégicas do inimigo.

Calcula-se que a Rússia tenha à disposição de suas forças armadas cerca de 1,9 mil ogivas nucleares táticas, o maior arsenal do tipo no mundo. Tais armas podem ser disparadas pela maioria dos jatos das forças armadas russas, bem como por lançadores de foguetes e mísseis convencionais.

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