Belarus realiza exercício militar e diz que está se ‘preparando para a guerra’

'Não acredite em ninguém que diga que queremos lutar', disse Lukashenko. 'Se você quer a paz, prepare-se para a guerra'

Teve início na terça-feira (2) um exercício militar das Forças Armadas de Belarus nas proximidades das fronteiras com Ucrânia, Polônia e Lituânia. Embora insista que não pretende intervir diretamente no conflito entre Moscou e Kiev, mesmo sendo um importante aliado da Rússia, o presidente Alexander Lukashenko disse por ocasião das manobras que seu país está se “preparando para a guerra”.

Os exercícios terão a duração de três dias e ocorrem nas regiões de Gomel, perto da linha divisória com a Ucrânia, e Grodno, nas imediações de Polônia e Lituânia. O argumento belarusso para realizar as manobras é o de preparar suas tropas para conter uma eventual agressão, de acordo com a rede Deustche Welle (DW).

Lukashenko marcou presença em Grodno e aproveitou a oportunidade para falar sobre as hostilidade entre seu país e as nações vizinhas, algumas delas integrantes da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), casos de Polônia, Lituânia e Letônia.

Alexander Lukashenko, presidente de Belarus (Foto: reprodução/twitter.com/MOD_BY)

“Não acredite em ninguém que diga que queremos lutar”, disse o presidente, que na sequência trocou o tom apaziguador por um mais agressivo. “Estamos nos preparando para a guerra, e estou falando sobre isso com franqueza. Se você quer a paz, prepare-se para a guerra”, acrescentou, segundo o jornal Kyiv Post.

Lukashenko tem insistido que não quer entrar em guerra com os vizinhos, nem mesmo se juntar a Moscou no conflito contra Kiev. Na terça, seguiu pelo mesmo caminho, afirmando que Belarus “não precisa ameaçar ninguém” e “não quer a terra de outras pessoas.”

As recentes ações dele, no entanto, não são compatíveis com as palavras. Em janeiro, por exemplo, o presidente aprovou uma mudança na doutrina militar nacional, permitindo pela primeira vez o uso de armas nucleares.

A decisão surgiu meses após o país concordar em abrigar armas nucleares táticas fornecidas pelo presidente russo Vladimir Putin, um movimento que disparou alarmes em toda a Europa. A manobra gerou preocupação especialmente entre os países-membros da Otan que fazem fronteira com Belarus, Polônia, Letônia e Lituânia.

Aliança Moscou-Minsk

Embora Minsk não tenha força militar para entrar em uma guerra contra os países da Otan, que teriam todo o suporte da aliança, merece especial atenção pela relação entre Lukashenko e Putin. Caso a Rússia se envolvesse em um conflito na região, automaticamente arrastaria Belarus junto.

A submissão já levou Minsk a permitir que Moscou acumulasse tropas na região da fronteira com a Ucrânia e usasse posteriormente o território belarusso como passagem para as Forças armadas russas atacarem.

A situação tem levado governos e entidades ocidentais a incluírem Belarus em inúmeras sanções impostas à Rússia em função da guerra, mesmo que Minsk não tenha enviado soldados para combater ao lado das tropas da nação aliada.

A submissão é tamanha que o jornalista russo Konstantin Eggert chegou a afirmar, em artigo publicado pela rede DW em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho”. E isso, segundo ele, “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante.”

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto de 2021, embora não tenha manifestado otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

Mais recentemente, o embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, afirmou que Belarus pode ter o mesmo destino da Ucrânia após a guerra, vez que o objetivo da Rússia é “apagar a soberania” das duas nações. Segundo ele, Putin já “deixou claro” que os países “pertencem” à Rússia.

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