Lukashenko exime a Rússia e diz que foi ele quem pediu armas nucleares em Belarus

Minsk se prepara para receber armas nucleares táticas russas, com entrega prevista em alguns dias, segundo o autoritário líder belarusso

O ditador belarusso Alexander Lukashenko afirmou nesta terça-feira (13) que as armas nucleares táticas russas chegarão ao seu país em questão de “dias”, um prazo mais curto do que se pensava anteriormente. A declaração colocou mais lenha na fogueira das tensões já existentes entre o Kremlin e o Ocidente. As informações são da rede Radio Free Europe.

Lukashenko enfatizou que a decisão de implantar esses armamentos em solo belarrusso partiu dele, e não do presidente russo Vladimir Putin. O chefe do Kremlin havia mencionado anteriormente que as armas provavelmente seriam implantadas na segunda semana de julho, assim que as instalações de armazenamento estivessem preparadas.

“Está tudo preparado. Acredito que teremos o que solicitamos em alguns dias, talvez até um pouco mais”, afirmou Lukashenko.

Alexander Lukashenko, presidente de Belarus, em reunião com militares locais (Foto: reprodução/eng.belta.by)

Ele enfatizou que essa medida não se trata da Rússia, mas sim de um pedido pessoal dele. O autoritário líder deixou claro que Moscou não impôs essa decisão a ele, e justificou sua posição dizendo: “Porque, como todos vocês afirmam, ninguém no mundo já enfrentou uma potência nuclear, e eu não quero que ninguém nos confronte”.

No dia 25 de maio, Moscou e Minsk assinaram acordos que permitem a implantação de armas nucleares táticas russas no território de Belarus. Essa é a primeira vez, desde o colapso da União Soviética, que ogivas nucleares estão sendo realocadas para fora da Rússia.

O anúncio provocou críticas imediatas de governos ao redor do mundo, com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) descrevendo-o como “perigoso e irresponsável”. Embora os Estados Unidos tenham criticado essa ação, tanto eles quanto a aliança militar não revisaram suas posições em relação a armas nucleares estratégicas.

Apesar das declarações de altos funcionários russos de que Moscou manterá o controle sobre as armas nucleares táticas após sua transferência para Belarus, Lukashenko afirmou que não hesitaria em utilizá-las em caso de agressão contra seu país, embora esperasse nunca ter que tomar tal decisão, de acordo com a agência de notícias estatal BelTA.

No início deste ano, Putin anunciou a intenção de implantar armas nucleares de curto alcance em Belarus, um aliado próximo da Rússia. A ação foi amplamente interpretada como um sinal para o Ocidente, especialmente em resposta ao aumento do apoio militar do Ocidente à Ucrânia.

No mês passado, em entrevista à emissora estatal Rússia 1, Lukashenko disse que “haverá armas nucleares para todos” que queiram se juntar “ao Estado da União de Belarus e Rússia”. E deu um exemplo prático: “Ninguém se importa que o Cazaquistão e outros países tenham as mesmas relações estreitas que temos com a Federação Russa.”

Até o momento, as autoridades russas não responderam imediatamente às declarações de Lukashenko.

Por que isso importa?

A aliança entre Belarus e Rússia é anterior à invasão da Ucrânia, mas se fortaleceu com a guerra. O país comandado por Alexander Lukashenko permitiu que Moscou, sob o governo do aliado Vladimir Putin, acumulasse tropas na região de fronteira e posteriormente usasse o território belarusso como passagem para as forças armadas russas.

A situação tem levado governos e entidades ocidentais a incluírem Belarus em inúmeras sanções impostas à Rússia em função da guerra, mesmo que Minsk não tenha enviado soldados para combater ao lado das tropas da nação aliada.

Em artigo publicado em 12 de agosto do ano passado, intitulado “Não nos esqueçamos do envolvimento de Belarus na guerra da Rússia na Ucrânia”, o jornalista ucraniano Mark Temnycky destacou o papel belarusso como viabilizador do ataque e cobrou punições ainda mais severas a Minsk.

“Ao apresentar a Putin uma base de operações para sua invasão ilegal e desnecessária da Ucrânia, Lukashenko é culpado por associação. Em vez de condenar a guerra, o presidente belarusso afirmou repetidamente que apoia as ações da Rússia na Ucrânia”, disse ele.

A submissão de Minsk a Moscou é tamanha que o jornalista russo Konstantin Eggert chegou a afirmar, em artigo publicado pela rede Deutsche Welle (DW), em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho” nos últimos anos. E isso, segundo ele, “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto de 2021, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

Mais recentemente, o embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, afirmou que Belarus pode ter o mesmo destino da Ucrânia após a guerra, vez que o objetivo da Rússia é “apagar a soberania” das duas nações. Segundo ele, Putin já “deixou claro” que os países “pertencem” à Rússia.

Tags: