Suécia aceita na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Aliados ocidentais dispostos a enviar seus soldados à Ucrânia. A semana começou com más notícias para a Rússia, que reagiu não apenas com palavras, mas também como uma manobra estratégica efetiva, sinalizando que está se preparando para uma guerra com o Ocidente a longo prazo.
O ingresso de Estocolmo na aliança militar transatlântica aumenta a pressão militar sobre Moscou, mas não chega a surpreender. A aprovação era apenas uma questão de tempo e foi confirmada na segunda-feira (26). Depois de romper a resistência da Turquia em janeiro, agora foi a vez de o país escandinavo obter o aval da Hungria, o obstáculo final.
Apenas seis dos 194 parlamentares que votaram no parlamento húngaro disseram “não” à admissão dos suecos, de acordo com a rede CNN. Com o aval, que havia sido prometido dias antes pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, a Otan chega a 32 membros, com a Finlândia, aceita em abril de 2023, tendo sido o 31º.
“Hoje é um dia histórico”, disse o primeiro-ministro sueco Ulf Kristersson através do X, antigo Twitter. “Os parlamentos de todos os Estados-Membros da Otan votaram agora a favor da adesão da Suécia à Otan. A Suécia está pronta para assumir a sua responsabilidade pela segurança euro-atlântica.”
A novidade foi celebrada também pela Lituânia, que vê sua soberania ameaçada pela beligerância russa e tem a Otan como uma garantia crucial. Através do X, o embaixador do país báltico na Suécia, Linas Linkevicius, comemorou o que, para ele, é uma vantagem estratégica contra Moscou.
“Após a Suécia ter sido integrada à aliança, o Mar Báltico tornou-se um mar interno da Otan. Se a Rússia ousar desafiar a Otan, Kaliningrado seria ‘neutralizada’ primeiro. As anteriores falsas acusações da Rússia de que está rodeada pela Otan estão agora se tornando realidade”, afirmou o diplomata.
After #Sweden was integrated into the Alliance, the Baltic Sea became an internal #NATO sea. If #Russia dares to challenge NATO, Kaliningrad would be "neutralized" first. Russia's previous false accusations that it is surrounded by NATO are now becoming a reality. pic.twitter.com/f3ftiMO4ED
— Linas Linkevicius (@LinkeviciusL) February 27, 2024
Preparação para a guerra
Com a Otan cada vez mais próxima, a Rússia realizou uma manobra estratégica preventiva que coloca o país em melhores condições de eventualmente enfrentar a aliança em uma guerra. Também na segunda-feira, o presidente Vladimir Putin assinou dois decretos, restabelecendo oficialmente os distritos militares de Moscou e Leningrado e dando maior liberdade de atuação à Frota do Norte de sua Marinha.
De acordo com o think tank Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), a curto e médio prazo as medidas servem para “consolidar o controle sobre as operações russas na Ucrânia.” Já a longo prazo sinalizam que o país está se preparando “para uma potencial futura guerra convencional em grande escala contra a Otan.”
Nesse cenário, o que se destaca é a recriação do distrito militar de Leningrado, próximo aos Estados Bálticos e sobretudo à Finlândia, que compartilha com a Rússia uma fronteira de cerca de 1,34 mil quilômetros, a mais longa entre a União Europeia (UE) e o território russo. Isso porque os decretos de Putin dão maior autonomia legal para o posicionamento de tropas perto da divisa com a Otan.
Tropas da Otan na Ucrânia
Embora a projeção do ISW seja de um confronto Rússia x Otan ainda distante, existe um cenário que pode antecipar a guerra. Nos últimos dias, dois líderes de países-membros da aliança disseram que vem sendo debatido o envio de tropas ocidentais à Ucrânia.
Quem falou primeiro foi Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia. “Eu me limitarei a dizer que estas teses implicam que vários Estados-Membros da Otan e da UE (União Europeia) estão considerando o envio das suas tropas à Ucrânia numa base bilateral”, disse ele, de acordo com a agência Reuters.
Um pouco depois, o presidente da França, Emmanuel Macron, confirmou a afirmação. “Não há consenso hoje sobre enviar tropas oficiais e endossadas para o terreno. Mas, em termos de dinâmica, nada pode ser descartado”, disse ele, segundo a AP. “Faremos tudo o que for necessário para que a Rússia não possa vencer a guerra.”
Tal hipótese, no entanto, depende de cada país e não partiria da aliança coletivamente. O secretário-geral Jens Stoltenberg deixou isso claro em entrevista à agência Associated Press (AP).
“Os aliados da Otan estão fornecendo um apoio sem precedentes à Ucrânia. Temos feito isso desde 2014 e intensificamos após a invasão em grande escala. Mas não há planos para tropas de combate da Otan no terreno na Ucrânia”, disse o chefe da aliança.
De toda forma, a fala de Macron não ficou sem resposta do Kremlin. Segundo o porta-voz Dmitry Peskov, a presença de militares ocidentais no campo de batalhas levaria, sim, a um conflito entre Rússia e Otan. “Nesse caso, não se trata de probabilidade, mas de inevitabilidade. É assim que avaliamos”, disse ele, segundo a agência estatal de notícias russa Tass.