Chefe da inteligência britânica pede que russos insatisfeitos espionem o próprio país

Richard Moore se dirige aos cidadãos que "lutam com suas consciências" e pede que "compartilhem segredos com o MI6"

Richard Moore, chefe da agência de inteligência estrangeira do Reino Unido, o popular MI6, convocou eventuais cidadãos russos insatisfeitos com o governo do presidente Vladimir Putin a traírem seu país, espionando em favor do Ocidente. As informações são da rede CNN.

Em rara manifestação pública, falando de Praga, na República Tcheca, o chefe do SIS (Serviço Secreto de Inteligência, da sigla em inglês) se dirigiu aos russos que “lutam com suas consciências” e pediu que se sintam à vontade para “compartilhar segredos com o MI6”.

“Há muitos russos hoje que estão silenciosamente chocados ao verem suas forças armadas pulverizando cidades ucranianas, expulsando famílias inocentes de suas casas e sequestrando milhares de crianças”, disse a autoridade britânica ao justificar a convocação.

Em resposta à convocação, Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, fez um alerta aos russos que se sintam tentados a atender à convocação. Ela lembrou o caso do ex-agente russo Sergei Skripal, que morreu envenenado no Reino Unido, crime atribuído à inteligência de Moscou, que jamais assumiu a responsabilidade.

“Quanto a ‘portas abertas e guardando segredos’, talvez acreditassem em você se nos mostrasse os Skripals”, disse Zakharova dirigindo-se a Moore, manifestação que foi compartilhada pelo aplicativo de mensagens Telegram. “Normalmente, aqueles que acreditam em você e confiam em você acabam sendo destruídos por você em primeiro lugar.”

Richard Moore, chefe do MI6: de olho em russos insatisfeitos com Putin (Foto: reprodução/Twitter)
Combate à espionagem russa

A manifestação de Moore é mais uma tentativa de enfraquecer a inteligência da Rússia, que sofreu duros golpes nos últimos anos. As nações do continente têm fechado o cerco contra a espionagem russa, uma contraofensiva que aumentou ainda mais com a guerra na Ucrânia.

Nos últimos anos, centenas de diplomatas russos foram expulsos de países europeus sob a acusação de que vinham atuando como espiões disfarçados. Ken McCallum, diretor do MI5, o serviço de inteligência doméstica britânica, calculou em novembro do ano passado que mais de 600 russos foram obrigados a deixar países europeus nessas condições.

“Isso foi o golpe estratégico mais significativo contra os serviços de inteligência russos na história recente da Europa”, disse McCallum na ocasião. “E, junto com ondas coordenadas de sanções, a escalada pegou Putin de surpresa.”

Os envenenamentos de Salisbury

Somente no Reino Unido, mais de cem pedidos de vistos diplomáticos feitos pelo governo russo foram rejeitados desde 2018, quando o Sergei Skripal e a filha dele, Yulia, foram envenenados em Salisbury, sul da Inglaterra.

O crime foi inicialmente atribuído a Alexander Mishkin e Anatoly Chepiga, coronéis do GRU, a inteligência militar russa. Em setembro de 2021, o Reino Unido anunciou que um terceiro agente russo, identificado como Denis Sergeev, foi formalmente acusado.

O espião desertor morreu envenenado por novichok, uma substância neurotóxica desenvolvida pela União Soviética nas décadas de 1970 e 1980. Yulia e um agente de polícia britânico, Nick Bailey, também foram contaminados, mas conseguiram se recuperar.

Quatro meses depois da morte de Skripal, a cidadã britânica Dawn Sturgess morreu acidentalmente quando o namorado dela encontrou um frasco que pensava ser de perfume, mas continha na verdade o perigoso agente tóxico.

Em 2014, Putin havia condecorado Mishkin e Chepiga com o prêmio “Heróis da Rússia”, o mais importante do país, pela atuação em uma operação secreta na República Tcheca e na Bulgária, possivelmente as explosões em depósitos de armamentos. Além da honraria, os espiões receberam apartamentos em áreas nobres de Moscou.

Registros telefônicos indicam que os agentes mantinham contato frequente com o gabinete do ministro Sergei Lavrov, que comanda o Ministério das Relações Exteriores da Rússia. Os contatos continuaram antes e depois do ataque a Skripal.

Os espiões também se reportam diretamente ao comandante do GRU Andrey Averyanov, de quem Chepiga chegou a ser convidado de honra em um casamento familiar. Averyanov teria, inclusive, ingressado na República Tcheca com a dupla de espiões no período em que ocorreram as explosões. Não há evidências da participação direta dele nos envenenamentos.

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