Com fuga de marcas, Rússia substitui eletrônicos ocidentais por chineses

Guerra na Ucrânia tornou-se uma grande oportunidade de negócios para gigantes como Xiaomi e Tecno

Com a debandada de marcas ocidentais da Rússia, fenômeno que marcou o início da guerra na Ucrânia, a China aproveitou o filão de mercado e está vendendo seus smartphones e eletrodomésticos como água no país. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

Segundo dados mostrados pela Marvel Distribution, uma das maiores distribuidoras de equipamentos de informática, eletrônicos portáteis e equipamentos de comunicação na Rússia, entre janeiro e junho de 2022 pelo menos sete marcas chinesas de smartphones assumiram a dianteira das vendas. As marcas Tecno, Infinix, Realme e Xiaomi se deram bem: todas registraram mais de 100% de crescimento ano a ano.

Um dos principais cases de sucesso é a Realmi, fabricante chinesa de smartphones com sede em Shenzhen. A marca saltou de menos de meio milhão de unidades vendidas entre janeiro e junho de 2021 para mais de 1 milhão no mesmo período deste ano.

Gadgets chineses vêm performando muito bem no mercado russo desde o início da guerra (Foto: World Leaks/Flickr)

De acordo com varejistas de eletrônicos, as vendas de smartphones chineses, incluindo da Tecno, tiveram um aumento de até vinte vezes desde a invasão das tropas russas ao país vizinho, em 24 de fevereiro.

Na opinião de analistas, a tendência é que conhecidas marcas chinesas finquem suas bandeiras no mercado russo e firmem a liderança no setor tecnológico.

“As marcas de tecnologia chinesas ocuparão até 90% de todo o mercado russo”, prevê Alexander Surkov, designer e fabricante de dispositivos avançados do Grupo GS da Rússia. “Depois, elas começarão a criar seu próprio ecossistema, o que acabará fortalecendo ainda mais sua posição”, aposta.

Paralelamente, a participação das vendas de smartphones da Samsung e da Apple na Rússia caiu 15% e 14%, respectivamente. Para piorar, com a saída da gigante tecnológica com o logotipo da maçã, os fãs do iPhone ou de dispositivos semelhantes têm que superar um grande desafio para baixar atualizações do sistema operacional ou aplicativos.

Já os russos proprietários de aparelhos Samsung também estão vivendo pequenos dramas particulares, já que não é possível ativar um novo telefone da marca devido à necessidade de um cartão SIM de país no qual o smartphone tenha sido lançado. O que não é o caso da Rússia.

De modo geral, porém, não há muito otimismo nesse setor. Isso porque as vendas gerais de smartphones na Rússia caíram quase um quarto, totalizando dez milhões de unidades no primeiro semestre de 2022.

Para estancar o problema, o presidente Vladimir Putin assinou uma medida na semana passada que legaliza as chamadas “importações paralelas” para o país, de modo a manter o fornecimento de produtos ocidentais, mesmo com o país sufocado por sanções.

Segundo o jornal de negócios Kommersant, a legislação retira as penalidades para a importação de carros, roupas, matérias-primas e outros produtos estrangeiros em uma lista aprovada pelo governo sem permissão dos proprietários de marcas registradas. 

Por que isso importa?

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro, quase mil empresas ocidentais deixaram de operar em território russo, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral. O levantamento foi feito pela Universidade de Yale, nos EUA.

A debandada custará caro ao consumidor russo, privado de produtos em áreas diversas, como entretenimento, tecnologia, automobilístico, vestuário e geração de energia.

No setor de alimentação, o McDonald’s recentemente vendeu seu negócio no país a um empresário russo. Ao fim do ano passado, a rede tinha 847 lojas no país. Diferente do que ocorre no resto do mundo, onde habitualmente atua no sistema de franquias, 84% das lojas russas são operadas pela própria companhia. Somado ao faturamento na Ucrânia, a operação responde por 9% da receita global da empresa.

Loja do McDonald’s na Rússia (Foto: Wikimedia Commons)

Duas importantes cervejarias da Europa, a holandesa Heineken e a dinamarquesa Carlsberg, também anunciaram que venderão seus negócios e deixarão de atuar na Rússia. Os planos da empresa da Holanda incluem manter o pagamento de seus funcionários até o final do ano, período no qual buscará um comprador, bem como vender o negócio sem margem de lucro. Já a companhia da Dinamarca diz que seguirá em funcionamento, mas com uma operação em pequena escala, até ser vendida.

Uma decisão que já causou problemas foi o fim dos serviços das companhias de cartões de crédito MastercardVisa. O maior banco estatal da Rússia, o Sberbank, disse que o impacto na rotina doméstica dos cidadãos seria pequeno e assegurou que ainda é possível “sacar dinheiro, fazer transferências usando o número do cartão e pagar em lojas russas offline e online”, de acordo com a rede britânica BBC.

A tendência é a de que os consumidores russos possam usar os cartões normalmente até que percam a validade, e depois disso não recebam novos plásticos. Entretanto, os cartões emitidos na Rússia já deixaram de ser aceitos no exterior. Isso atrapalhou, por exemplo, turistas que ficaram impedidos de deixar a Tailândia, por problemas com voos cancelados e cartões bloqueados.

No setor de vestuário, quem anunciou estar deixando o mercado russo é a Levi’s, sob o argumento de que quaisquer considerações comerciais “são claramente secundárias em relação ao sofrimento humano experimentado por tantos”. Nike e Adidas também suspenderam todas as operações no mercado russo. A sueca Ikea, gigante do setor de móveis, é outra que decidiu deixar a Rússia em função da guerra.

Nas áreas de entretenimento e tecnologia, alguns gigantes também optaram por suspender as vendas de produtos e serviços no país de Vladimir Putin. A Netflix interrompeu seus serviços e cancelou todos os projetos e aquisições na Rússia, enquanto WarnerDisney e Sony adiaram os lançamentos de suas novas produções no país. Já a Apple excluiu os aplicativos das empresas estatais russas de mídia RT e Sputnik e disse que não mais venderá seus produtos, como iPhonesiPads e afins, em território russo. Panasonic, Microsoft, NokiaEricsson e Samsung são outras que optaram por encerrar as operações no país.

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