Em meio à escalada de tensão, Ucrânia recruta reservistas e prepara estado de emergência

Entre as medidas, o plano irá intensificar ações como verificações de documentos e veículos, além de outras resoluções

Após decreto do presidente Volodymyr Zelensky, a Ucrânia está recrutando reservistas com idades entre 18 e 60 anos para cumprimento de serviço militar de até um ano, anunciou o Conselho de Segurança e Defesa Nacional do país nesta quarta-feira (23). A medida ocorre em meio à ameaça de uma invasão em grande escala pela Rússia, segundo informou a rede Radio Free Europe.

Paralelamente, o órgão governamental aprovou nesta quarta uma estratégia para decretar estado de emergência por um período de 30 dias em todo o território nacional, com exceção das autodeclaradas repúblicas de Donetsk e Luhansk. Entre as medidas, o plano irá intensificar ações como verificações de documentos e veículos, além de outras resoluções. O decreto deve ser formalmente aprovado pelo parlamento.

Durante discurso em rede nacional na terça (22), o líder ucraniano disse que implementaria a convocação de reservistas, mas que não estava ordenando uma mobilização geral de tropas no momento.

Exército ucraniano durante cerimônia de encerramento de missão no Iraque (Foto: U.S. Army/Divulgação)

“Como comandante supremo das Forças Armadas da Ucrânia, emiti um decreto sobre o recrutamento de reservistas durante um período especial”, declarou Zelensky na transmissão, que acrescentou: “Devemos aumentar a prontidão do Exército ucraniano para todas as possíveis mudanças na situação operacional”.

O presidente ainda reforçou que não desistiu de uma saída diplomática para a crise, porém, deixou claro que a Ucrânia não irá ceder território.

Em meio à atmosfera turbulenta, Kiev pediu à população para que evite viagens para a Rússia e orientou aos que estão no país vizinho para saiam de lá imediatamente, alertando para uma potencial paralisação dos serviços consulares.

A população civil do país também vem sendo treinada para reagir em caso de guerra. Nos últimos meses, o treinamento de defesa para civis tem crescido rapidamente, tanto em Kiev quanto em outras grandes cidades da Ucrânia.

Entre aqueles que oferecem preparação militar estão instituições formais, como as Forças de Defesa Territoriais, que atuam sob a supervisão do Exército ucraniano. Mas há também milícias e organizações políticas armadas privadas, algumas delas com a bagagem de terem atuado contra as forças separatistas apoiadas pela Rússia na região de Donbass, no leste ucraniano.

“Pária”, diz premiê britânico sobre a Rússia

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson declarou nesta quarta (23) que a Rússia se encaminha para obter um “status de pária” e que o Kremlin está com as peças posicionadas para um ataque total. Já a ministra das Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss, alertou para a “alta probabilidade” de uma ofensiva em Kiev, cidade que tem uma população de cerca de 2,6 milhões de pessoas.

O mandatário ucraniano, por sua vez, fez críticas a aliados estrangeiros por retirarem suas embaixadas da capital e do resto do país. Ele ainda repercutiu negativamente a debandada de empresas ucranianas. “Todos devem ficar na Ucrânia, inclusive as empresas localizadas em solo ucraniano, que é protegido por nossos militares”, disse Zelensky.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e segue até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe o governo ucraniano às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e contam com o suporte de Moscou. Em 2021, a situação ficou especialmente delicada, com a ameaça de uma invasão integral da Rússia à Ucrânia.

Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilha com seus aliados informações de inteligência. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin e a adoção das medidas logísticas necessárias.

A inteligência da Ucrânia calcula a presença de mais de 120 mil tropas nas regiões de fronteira, enquanto especialistas calculam que sejam necessárias 175 mil para uma invasão. Já a inteligência dos EUA afirma que um eventual ataque ao país vizinho por parte da Rússia ocorreria pela Crimeia e por Belarus.

Um conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a desenvolver e ampliar suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, se isso ocorrer, as tropas russas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.


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