EUA miram iates russos e violoncelista ligado a Putin em nova leva de sanções pela guerra na Ucrânia

Elites ligadas ao Kremlin, ativos de luxo e iates favoritos do presidente russo foram bloqueados após penalidades impostas por Washington

O Departamento do Tesouro dos EUA disse nesta quinta-feira (2) que impôs sanções a uma pessoa próxima a Vladimir Putin, bem como a uma corretora de iates ligada ao Kremlin e a diversos funcionários do governo. Todos foram descritos como engrenagens de um sistema que permite ao presidente russo e sua elite “movimentar dinheiro e usar anonimamente ativos de luxo ao redor do Globo”. As informações são da rede CNBC.

“As elites da Rússia, incluindo o presidente Putin, contam com complexas redes de apoio para esconder, mover e manter suas riquezas e bens de luxo”, disse o subsecretário do Tesouro para Terrorismo e Inteligência Financeira, Brian Nelson, acrescentando que a elite de Moscou é responsável por canalizar bilhões de dólares em bens como superiates e mansões.

De acordo com ele, a ação demonstra que o Tesouro dos EUA está no encalço dos responsáveis ​​pela blindagem e manutenção dos interesses ilícitos russos. “Continuaremos a aplicar nossas sanções e a expor os sistemas corruptos pelos quais o presidente Putin e suas elites enriquecem”.

Graceful, o suposto superiate de Vladimir Putin (Foto: Twitter/Reprodução)

E um nome se destaca entre os mais recentes alvos de Washington. Segundo comunicado do governo norte-americano à imprensa, Sergei Roldugin é apontado como o guardião da riqueza internacional do chefe do Kremlin. Violoncelista, maestro e diretor artístico da St. Petersburg Music House, uma instituição cultural estatal na Rússia, e amigo de décadas de Putin, Roldugin, que se acredita ser o padrinho do primeiro filho do presidente, já foi sancionado pela União Europeia (UE).

Ele também teve seu nome incluído nos vazamentos Panama Papers em 2016, sendo apontado como participante de uma rede clandestina operada por associados de Putin que lavou centenas de milhões por meio de bancos e empresas offshore, disse o jornal Guardian.

De acordo com a OFAC (Agência de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA, da sigla em inglês), as novas sanções atingiram dois iates usados por Putin, agora bloqueados pelo Tesouro: o Graceful, de bandeira russa, e o Olympia, de bandeira das Ilhas Cayman. Entretanto, não foi citado por Washington o superiate Scheherazade, avaliado em US$ 700 milhões e confiscado pela Itália em maio.

“O líder da Rússia fez várias viagens nesses iates, incluindo uma viagem em 2021 no Mar Negro, onde se juntou a ele Alexander Lukashenko, o governante corrupto que apoiou a guerra da Rússia contra a Ucrânia”, diz o comunicado, citando o presidente de Belarus, acusado de permitir que Putin usasse o território belarusso para coordenar uma invasão multifacetada ao país vizinho.

Autoridades relataram que as penalidades financeiras também serão aplicadas a empresas e indivíduos que possuíam ou administravam os dois barcos: SCF Management Services, Ironstone Marine Investments, JSC Argument e O’Neill Assets Corp.

Os principais oligarcas russos têm negócios associados ao Kremlin, gastando centenas de milhões com esses iates. Os gastos são destinados a itens como instalações de alto luxo, acessórios de banheiro de ouro e mármore, decks em madeira rara com heliporto, carros e piscinas.

Muitas dessas embarcações têm sido apreendidas por autoridades do EUA ao ancorarem em portos aliados, ações que têm o objetivo de pressionar Putin.

Entre os cinco oligarcas sancionados estão Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, e Alexey Mordashov, líder do Severgroup e um dos bilionários mais ricos da Rússia. A lista pode ser vista aqui.

Uma reportagem do jornal The New York Times publicada na quarta-feira (1) revelou que a Imperial Yachts, uma empresa de Mônaco especializada em gerenciamento de navios, tem como clientes oligarcas cuja riqueza aumenta ou diminui com base nas decisões tomadas pelo mandatário russo.

Após a publicação da matéria investigativa, a OFAC declarou que a empresa e seu CEO russo, Evgeniy Kochman, estão sujeitos a sanções de Washington.

Por que isso importa?

A apreensão de bens dos homens mais ricos da Rússia começou poucos dias após a invasão à Ucrânia. Na Alemanha e na França, iates que pertencem a dois oligarcas russos foram apreendidos, e alguns bilionários ligados a Putin constataram que seus cartões de débito haviam sido bloqueados.

Autoridades francesas na região de Marselha apreenderam o iate do russo Igor Sechin, que comanda a Rosneft, empresa estatal de energia da Rússia. Já os alemães apreenderam um iate avaliado em US$ 600 milhões pertencente a Alisher Usmanov, magnata do setor de mineração.

No caso de Sechin, a apreensão ocorreu quando as autoridades portuárias francesas notaram que a embarcação se preparava para deixar o porto onde estava atracada para reparos. Alguns bilionários russos, temendo sofrer ações semelhantes, deslocaram seus iates para as ilhas Maldivas.

Roman Abramovich, um dos mais populares oligarcas russos, viu-se forçado a colocar à venda o clube de futebol Chelsea. No processo, o ex-dono da agremiação, já vendida, disse que abriria mão de uma dívida de US$ 2 bilhões que o clube tem com ele. Várias propriedades de Abramovich na Inglaterra também teriam sido colocadas à venda.

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