Um deputado e uma deputada russos da Sibéria tiveram seus mandatos cassados sob a justificativa de não terem enviado declarações de renda obrigatórias. O que os aproxima é o fato de que ambos fazem parte da oposição ao presidente Vladimir Putin, são apoiados pelo maior rival político dele, Alexei Navalny, e vivem atualmente no exílio. As informações são do jornal The Moscow Times.
Destituídos do cargo sob o argumento burocrático dois anos antes do fim de seus mandatos, Sergei Boyko e Helga Pirogova alegam que a cassação é politicamente motivada. Eles negam as acusações e dizem que apresentaram normalmente as declarações de renda no ano passado.
Em sua conta no Twitter, Pirogova afirmou que o argumento formal da promotoria para justificar o pedido de cassação foi mudando conforme os dois deputados derrubavam cada uma das alegações.
“Que fique claro para todos que tudo isso é uma grande bobagem. Ao mesmo tempo, não fornecemos avisos de declaração; mas, sim, fornecemos. E não fornecemos no prazo; mas, sim, fornecemos. Então, eles são falsos (o quê?!). E agora querem nos privar dos mandatos ‘em conexão com a PERDA DE CONFIANÇA’!”, disse ela na rede social.
что тогда всем станет ясно, что всё это какая-то нелепица. Мы одновременно не предоставили декларационные уведомления, предоставили, но не в срок и предоставили, но фальшивые (просто что?). И теперь нас хотят лишить мандатов "в связи с УТРАТОЙ ДОВЕРИЯ"!
— Ярость и Мультифора (@hellpad) June 28, 2023
A deputada reforçou a indignação em entrevista ao The Moscow Times. “É uma decisão absolutamente ilegal e politicamente motivada retirar nossos mandatos. Não há motivos para isso”, disse. “Não fomos eleitos por deputados, mas por nossos eleitores, e não cabe aos deputados votarem nisso.”
Agora, Pirogova diz que ambos vão apelar da decisão e também abrir uma ação cível contra a Câmara Municipal de Novosibirsk, cidade da província homônima onde atuavam, na região da Sibéria.
Boyko também usou o Twitter para contestar a decisão e atacou o partido Rússia Unida, que lidera a coligação pró-Putin no país. “Não sou formalista, mas de alguma forma soa absolutamente louco retirar mandatos por ‘perda de confiança’. Helga e eu tínhamos a confiança dos eleitores, não dos bandidos do Rússia Unida”, declarou.
Embora vivam atualmente no exílio, ambos vinham conseguindo manter o mandato mesmo fora do país. Pirogova fugiu em agosto do ano passado, após o Ministério do Interior abrir acusações criminais contra ela por divulgar “informações falsas” sobre as forças armadas.
Na ocasião, ela criticou os luxuosos funerais realizados para combatentes voluntários mortos na Ucrânia. Disse que gostaria de “ressuscitar” os soldados, “dar-lhes um tapa na cara e deixá-los voltar para seus túmulos”, uma crítica ao fato de terem se oferecido para ir à guerra.
Boyko fugiu da Rússia em 2021, quando foi incluído nas acusações de extremismo que pesam contra Navalny, que atualmente cumpre pena de mais de 11 anos de prisão e está sendo julgado mais uma vez, o que tende a ampliar a condenação. Colegas do deputado chegaram a ser presos por ligação com o rival político de Putin.