O governo da Finlândia decidiu reduzir em 90% o número de vistos emitidos a cidadãos russos, como forma de represália pela guerra na Ucrânia. O anúncio foi feito na terça-feira (16) pelo ministro das Relações Exteriores Pekka Haavisto, de acordo com a rede Radio Free Europe.
“Os vistos de turista não vão parar completamente, mas seu número será significativamente reduzido”, disse ele. “Isso significa que outros tipos de vistos, a parentes, contatos familiares, trabalho e estudo, terão preferência e mais tempo”.
Outra decisão é a criação de uma categoria especial de visto, o humanitário, que teria como principais beneficiários jornalistas e colaboradores de ONGs. As medidas serão colocadas em prática a partir do dia 1º de setembro.
A Finlândia, que compartilha com a Rússia uma fronteira de cerca de 1,3 mil quilômetros, tem recebido um número crescente de russos em meio ao conflito, processando cerca de mil vistos diários para cidadãos do país vizinho, de acordo com a emissora de TV Yle.
Por via rodoviária, os russos atravessam a linha que divide as duas nações com o objetivo de comprar produtos agora indisponíveis na Rússia e também para ir de lá a outros destinos europeus, driblando assim as sanções que encerraram diversas rotas aéreas partindo de território russo.
Por que isso importa?
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky sugeriu que a União Europeia (UE), como bloco, interrompesse a emissão de vistos para os russos. Ele argumentou que Moscou está “tirando as terras de outras pessoas”, então seus cidadãos deveriam “viver em seu próprio mundo até que mudem a filosofia”.
A ideia de Zelensky foi apoiada por Kaja Kallas, primeira-ministra da Estônia. “Parem de emitir vistos de turista para russos. Visitar a Europa é um privilégio, não um direito humano. As viagens aéreas da Rússia estão fechadas. Isso significa que, enquanto os países Schengen emitem vistos, os vizinhos da Rússia carregam o fardo. Hora de acabar com o turismo da Rússia agora”, disse ela no Twitter.
Quem também deu aval à proposta foi Sanna Marin, premiê da Finlândia. “Não é certo que, enquanto a Rússia está travando uma guerra agressiva e brutal de agressão na Europa, os russos possam viver uma vida normal, viajar pela Europa, serem turistas”, disse ela.
Outros países que fazem fronteira com o território russo, como Letônia, Lituânia e Polônia, endureceram as regras de emissão de vistos. No entanto, admitem que é necessária uma posição conjunta da UE para regular a questão. Isso porque o visto eventualmente emitido por um país inserido no Espaço Schengen não pode ser recusado por outro.
A questão deve ser debatida pela UE no final de agosto, em reunião entre os ministros da Relações Exteriores do bloco, na República Tcheca, que detém a presidência rotativa do bloco e é favorável à medida. “Nas futuras reuniões do conselho europeu, essa questão será ainda mais forte. Minha posição pessoal é a de que o turismo deve ser restringido”, afirmou Marin.
A ideia, porém, não é unânime. A tendência é que seja contestada por países que mantêm laços fortes com Moscou, como a Hungria. Mesmo nações que se opõem fortemente à Rússia, caso da Alemanha, podem vetar a medida, argumentando que separaria famílias, considerando a grande comunidade russa no exterior. A Comissão Europeia cita, ainda, casos de jornalistas e dissidentes, dizendo que todos os vistos a essas categorias de pessoas devem ser concedidos.
O Kremlin, por sua vez, condenou a ideia. “Qualquer tentativa de isolar a Rússia ou os russos é um processo que não tem perspectivas”, disse o porta-voz Dmitry Peskov na terça-feira (9), acrescentando que a proposta exibe uma “irracionalidade de pensamento” que está “fora dos gráficos”.