Por anos, a Huawei foi uma das empresas mais ativas no lobby europeu, investindo milhões de euros em campanhas de influência para garantir sua presença nos mercados do continente. Agora, em meio ao escândalo de corrupção no Parlamento Europeu, detalhes sobre suas táticas vêm à tona, revelando um esforço sistemático para moldar decisões políticas a seu favor. As informações são do site Politico.
A empresa era conhecida por realizar eventos luxuosos, com recepções suntuosas e presentes generosos para políticos e autoridades regulatórias. Registros apontam que, no auge de suas atividades de lobby, a Huawei contava com 21 representantes registrados no Parlamento Europeu, número que caiu nos últimos anos diante do aumento do escrutínio sobre empresas chinesas.
Segundo investigações, a companhia utilizava intermediários e empresas de relações públicas para disseminar sua influência e tentar barrar restrições contra seu equipamento 5G.
A operação policial que resultou na apreensão de documentos e materiais nos escritórios da Huawei em Bruxelas reacendeu os debates sobre o alcance da influência estrangeira no bloco. As investigações apontam que, além de subornos, a empresa teria bancado viagens, jantares e ingressos para eventos esportivos de alto nível para eurodeputados e seus assistentes, criando uma rede de influência discreta, mas altamente eficaz.
As suspeitas contra a Huawei levaram o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia a tomarem medidas rápidas, incluindo a suspensão do acesso de lobistas da empresa às suas instalações. “Esses desenvolvimentos destacam a necessidade crítica de supervisão e responsabilização robustas”, afirmou Victor Negrescu, vice-presidente do Parlamento Europeu para Transparência.

Ameaça à segurança
As acusações contra a Huawei fortalecem a desconfiança em torno da empresa, cuja presença é rejeitada em vários países. Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos e Reino Unido são algumas das nações que baniram a fabricante por medo de que a China possa usá-la para espionagem e para realizar outras ações em benefício de Beijing.
A desconfiança é baseada na suposta proximidade das companhias do setor com o governo chinês. Autoridades ocidentais citam a Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual as empresas nacionais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçar as gigantes da telefonia a trabalhar a serviço do PCC.
Um caso em particular se enquadra nesse cenário. Em janeiro de 2017, a União Africana (UA) descobriu que servidores de sua sede, na capital etíope Adis Abeba, enviavam diariamente, durante a madrugada, dados sigilosos a um servidor na China e que o prédio estava repleto de microfones escondidos. Os servidores foram trocados, mas um problema semelhante se repetiu em 2020, quando os novos foram invadidos por hackers chineses que roubaram vídeos de vigilância das áreas interna e externa.
Não por coincidência, o prédio havia sido construído com financiamento chinês, por uma construtora chinesa. E os servidores originais, aqueles de 2017, eram chineses. Esse episódio, com o qual Beijing nega ter relação, explica a desconfiança generalizada com a infraestrutura digital proveniente da China.
A Huawei no Brasil
No Brasil, o aumento da presença da Huawei na rede de telefonia vai na contramão da tendência global. São da empresa chinesa mais de 80% das antenas que retransmitem sinal das atuais redes 2G, 3G e 4G brasileiras. E, de acordo com conteúdo patrocinado publicado em veículos como O Globo em maio de 2021, a companhia dizia à época ser responsável por mais de cem mil quilômetros de fibra óptica no país.
A alternativa encontrada pelo governo brasileiro para reduzir o impacto de eventuais brechas de segurança foi a criação de uma rede 5G governamental exclusiva, sem a presença de infraestrutura chinesa.
“Hoje, a Huawei não está apta a participar da rede privativa, segundo o que foi colocado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e pela nossa portaria”, disse o ex-ministro das Comunicações Fábio Faria, no início de novembro de 2021, quando foi realizado o leilão das bandas de 5G.