Kiev denuncia “roubo de crianças ucranianas” e fala em genocídio por parte de Moscou

Estudo indica que ao menos seis mil crianças ucranianas vêm sendo mantidas pelo governo russo em campos de reeducação

Kiev acusou Moscou de “roubar crianças ucranianas” e disse, na segunda-feira (27), que tais ações constituem “um crime genocida”. A denúncia foi feita pelo ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em mensagem de vídeo exibida na abertura da sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas). A informação foi reproduzida pela rede Deutsche Welle (DW).

“O crime mais assustador é que a Rússia rouba crianças ucranianas”, disse Kuleba no evento realizado em Genebra, na Suíça, acrescentando que tais ações constituem “provavelmente a maior deportação forçada da história moderna”. E sentenciou: “Este é um crime genocida”.

A denúncia foi reforçada por Annalena Baerbock, ministra das Relações Exteriores da Alemanha. “O que poderia ser mais desprezível do que tirar as crianças de suas casas, longe de seus amigos, de seus entes queridos?”, questionou ela na mesma sessão do Conselho.

A chefe da diplomacia alemã citou o caso de 15 crianças que teriam sido levadas de Kherson ainda no início da guerra, sendo que a mais jovem tinha nove anos à época. “Não vamos descansar até que todas essas crianças estejam em casa”, afirmou a ministra. “Porque os direitos das crianças são direitos humanos, e os direitos humanos são universais”.

Famílias ucranianas com crianças recebem abrigo na Polônia (Foto: Michal Korta/Unicef)
Seis mil crianças levadas

As manifestações das duas autoridades surgem na esteira de um um estudo do Laboratório de Pesquisa Humanitária (HRL) da Universidade de Yale, nos EUA, segundo o qual ao menos seis mil crianças ucranianas vêm sendo mantidas pelo governo russo em campos de reeducação espalhados por diversas regiões da Ucrânia e da Rússia.

Há indícios de que as crianças passam por um processo de reeducação pró-Rússia, com a aplicação inclusive de treinamento militar, e são invariavelmente impedidas de retornar ao convívio dos familiares. Foram identificadas 43 instalações usadas por Moscou para abrigar os menores ucranianos, cujas idades variam entre quatro meses e 17 anos.

Embora o Laboratório tenha conseguido identificar seis mil crianças e 43 instalações, afirma o estudo que os números reais tendem a ser “significativamente” maiores em ambos os casos. A maioria dos campos listados está na Crimeia, região ucraniana ocupada pela Rússia desde 2014. Mas alguns deles ficam em território russo, como as cidades de Moscou, Kazan e Ecaterimburgo.

O estudo ainda reforça uma denúncia antiga feita inclusive pela ONU, de que crianças classificadas por Moscou como “órfãs” são colocadas para viver com famílias adotivas na Rússia. “Vinte crianças desses campos foram colocadas com famílias no oblast de Moscou e matriculadas em escolas locais”, diz o documento.

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