Kiev tem o direito de atacar alvos russos inclusive fora da Ucrânia, diz chefe da Otan

Jens Stoltenberg toca em um ponto delicado para a aliança, até então cautelosa quanto a levar a guerra ao território russo

Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), afirmou nesta semana que a Ucrânia, apoiada pela aliança, tem o direito de atacar alvos russos inclusive fora do solo ucraniano, abrindo espaço assim para que a guerra atinja ainda mais o território da Rússia. Ele deu as declarações em entrevista à rede Radio Free Europe (RFE).

Stoltenberg tocou em um ponto delicado para o Ocidente, que desde o início da guerra tem agido para minimizar o impacto dos ataques de Kiev em território russo. Assim, as armas fornecidas às tropas ucranianas costumam ter alcance limitado.

Esse cenário, entretanto, muda a partir da declaração de Stoltenberg. Na entrevista que concedeu à RFE, o chefe da aliança foi questionado sobre as negociações para que as forças ucranianas recebam caças F-16 fabricados nos EUA, sob o argumento de que ajudariam a enfrentar a superioridade aérea russa.

Secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, novembro de 2022 (Foto: NATO/Flickr)

Stoltenberg, então, disse que cabe a cada um dos integrantes da Otan decidir que tipo de armamento entrega à Ucrânia, e as políticas variam de um país para o outro. Entretanto, ao avaliar a possibilidade de ataques dentro do território russo, algo que já tem acontecido e seria facilitado pelos F-16, o secretário-geral deixou sua posição bem clara.

“Em geral, precisamos lembrar o que é isso. Esta é uma guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, numa flagrante violação do direito internacional. E, de acordo com o direito internacional, a Ucrânia tem direito à legítima defesa”, disse o chefe da aliança.

Sem deixar margem a dúvida, ele reforçou que os direitos de Kiev incluem “também atingir alvos militares legítimos, alvos militares russos, fora da Ucrânia.” E acrescentou: “Isso é direito internacional. E, claro, a Ucrânia tem o direito de fazê-lo, de se proteger.”

A entrega dos jatos pelos EUA à Ucrânia foi aprovada em agosto, de acordo com a agência Reuters. Eles sairão da Dinamarca e da Holanda tão logo os pilotos ucranianos estejam devidamente treinados, o que Washington pretende concluir ainda neste ano.

A guerra já chegou à Rússia

Ataques ucranianos ao território russo têm ocorrido desde o início do conflito. Geralmente são conduzidos por drones e mísseis de longo alcance e visam a infraestrutura crítica e militar, como depósitos de combustível e de armas. Kiev, porém, opta por não comentar a abertamente questão, sustentando assim uma negação plausível.

Em novembro do ano passado, o think tank Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês) divulgou um relatório apontando que a Ucrânia tem aumentado a intensidade dos ataques em solo russo. Os alvos preferenciais são a região ocupada da Crimeia e outras áreas do leste da Rússia.

No caso da Crimeia, os alvos costumam ser da Marinha russa, bastante afetada pelos mísseis e drones ucranianos. Na semana passada, Kiev alegou que sus operações já neutralizaram um terço da frota russa do Mar Negro.

Também foram registrados episódios de sabotagem e assassinatos que Moscou atribui a Kiev. Uma ocorrência foi a morte do blogueiro pró-guerra russo Maxim Fomin, que adotava o pseudônimo Vladlen Tatarsky. A jovem russa Darya Trepova foi julgada e condenada por entregar a bomba usada no ataque, que segundo o Kremlin foi coordenado pela inteligência ucraniana.

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