Líbano permite saída de navio acusado de transportar grãos ucranianos roubados

Não foi constatado que os bens eram parte de um suposto esquema de pilhagem russa, disse autoridade libanesa

O Líbano liberou um navio cheio de cevada e farinha de trigo apreendido no sábado (30) no porto de Trípoli, a segunda maior cidade do país. As autoridades locais concluíram que a carga tinha procedência justificada. O Laodicea, de bandeira síria, foi acusado pela embaixada da Ucrânia de transportar grãos roubados do país, que seriam originários de Zaporizhzhia, Mykolaiv e Kherson. As informações são da rede Bloomberg.

A apreensão partiu de uma ordem do promotor libanês Ghassan Oueidat, que a partir da denúncia de que a embarcação havia sido carregada em Feodosia, na península da Crimeia, determinou que o navio ficasse retido enquanto era investigado. Em entrevista, ele disse que “não foi comprovada a existência de um crime, pois não foi constatado que os bens foram roubados”.

Oueidat detalhou que o proprietário do navio “veio à investigação e entregou papéis e documentos que não mostravam suspeitas sobre as mercadorias”. 

Laodicea no porto de Sebastopol, na península ucraniana (Foto: Marine Traffic/Divulgação)

Nos registros do banco de dados europeu Equasis, constam que a embarcação é de propriedade da Syria Mar Shipping Ltd., que não atendeu a um pedido de comentário. Tanto a empresa quanto o navio foram sancionados por Washington em 2015 por conta de ligações com o presidente sírio Bashar al-Assad.

Kiev alegava que o Laodicea, alvo de sanções dos Estados Unidos, carregava 5 mil toneladas de farinha e outras 5 mil toneladas de cevada, alimento que seria fruto de um esquema de pilhagem coordenado pela Rússia no território invadido.

Graneleiros de volta

Após mais de 160 dias de guerra, o primeiro carregamento oficial de grãos ucranianos chegou à Turquia na terça-feira (2), segundo a AFP (Agence France-Presse). A viagem, iniciada na segunda (1) no porto de Odessa, no Mar Negro, marca a retomada das operações após um acordo apoiado pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Segundo o Ministério da Defesa turco, o navio Razoni, de bandeira de Serra Leoa, passa por uma inspeção nesta quarta-feira (3) perto de Istambul por uma equipe que inclui autoridades russas e ucranianas. Depois, ele seguirá para Trípoli, no Líbano, destino da carga de 26 mil toneladas de milho.

A expectativa é de que o acordo, intermediado por Ancara, ajude a reduzir os preços dos alimentos em todo o mundo.

O esquema

O volume de alimentos transportados na Crimeia, região ucraniana anexada à força por Moscou em 2014, aumentou 50 vezes em relação ao esperado para esta época do ano.

Diante da situação, Kiev acusa Moscou de ter armado um grande esquema para faturar com a pilhagem. No último dia 6, houve um mal-estar após Ancara liberar uma embarcação russa suspeita de transportar grãos roubados. Após ser retido, o cargueiro de bandeira russa Zhibek Zholy, que estaria levando 7 mil toneladas, zarpou do porto de Karasu, algo definido pelas autoridades ucranianas como “inaceitável”. 

Na semana passada, a empresa de inteligência marítima Windward apontou um aumento de 160% nas chamadas “atividades escuras” de graneleiros no Mar Negro em relação ao mesmo período em 2021. Para esconder a localização, as embarcações de bandeira russa desligam o AIS (Sistema de Identificação Automática, da sigla em inglês).

Também há relatos de transferências de carga de navio para navio, um método do qual a Rússia estaria lançando mão para tentar “lavar” os grãos roubados de agricultores do país invadido.

Somente em junho, a Rússia tomou ou danificou pelo menos um milhão de toneladas de grãos e oleaginosas, segundo estimativas da Escola de Economia de Kiev. O prejuízo foi avaliado em cerca de US$ 600 milhões.

Por que isso importa?

Em meio a um cenário que gera preocupação com a iminência de uma crise alimentar global causada pela incapacidade de Kiev de exportar trigo por conta de seus portos bloqueados pelo exército russo, autoridades ucraniana falavam na metade de junho em um rombo de aproximadamente 500 mil toneladas, resultando em um prejuízo de US$ 100 milhões.

Washington alertou que o Kremlin está colocando dinheiro nos cofres com essa pilhagem e teria estabelecido um mercado de trigo roubado que negocia o alimento com países da África atingidos pela seca causada pelo fenômeno La Niña, segundo reportagem do jornal The New York Times. Algumas dessas nações já estariam enfrentando um quadro de fome.

Juntas, Rússia e Ucrânia concentram quase 30% da exportação global de trigo e 80% das exportações de girassol. Pelo menos 40% das exportações de trigo e milho produzidos em solo ucraniano vão para o Oriente Médio e a África, que já sofrem com a fome. A interrupção em ambos os países é sentida no sistema agroalimentar mundial.

  

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